Cirurgias plásticas na Coreia do Sul: a perspectiva da Teoria Feminista das Relações Internacionais
Cirugías plásticas en Corea del Sur: la perspectiva de la Teoría Feminista de las Relaciones Internacionales
Plastic Surgery in South Korea: A Feminist Theory of International Relations Perspective
Beatriz Carvalho Sertori*
Camilla Silva Geraldello**
* Bacharelado, Relações Internacionais, Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) (Brasil). Candidata ao mestrado, Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) (Brasil). [beatrizz.sertori@gmail.com]; [https://orcid.org/0009-0001-5905-6565].
** Doutorado, Universidade de São Paulo (USP) (Brasil). Professora de Relações Internacionais, Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) (Brasil). [cgeraldello@unaerp.br]; [https://orcid.org/0000-0002-3112-8301].
Para citar este artigo: Carvalho Sertori, B. y Silva Geraldello, C. (2024). Cirurgias plásticas na Coreia do Sul: a perspectiva da Teoria Feminista das Relações Internacionais. Oasis, 41, 229-258. DOI: https://doi.org/10.18601/16577558.n41.11
Recebido: 12 de maio de 2024 / Modificado: 28 de agosto de 2024 / Aceito: 9 de setembro de 2024
RESUMO
O fenômeno das cirurgias plásticas tem aumentado globalmente, este surto pode ser atribuído à crescente pressão que os indivíduos sentem a respeito dos padrões de beleza atuais. Nesse sentido, a Coreia do Sul é considerada líder mundial em procedimentos cirúrgicos, dada a sua popularidade e normalização na sociedade sul-coreana. A aparência externa é de grande importância cultural na Coreia do Sul, especialmente, para um grupo que está sujeito às normas de beleza mais rígidas: as mulheres. Este artigo visa, portanto, compreender a construção do padrão de beleza ocidental e como ele se funde na cultura sul-coreana. Seguindo este propósito, a Teoria Feminista das Relações Internacionais, juntamente com o viés decolonial, funcionará como uma "lente" para averiguar como essa norma de beleza controla e limita a imagem da mulher frente a sociedade patriarcal. Além disso, esta pesquisa também questiona o padrão internacional de beleza, baseado exclusivamente em traços europeus, que tem sido propagado universalmente como arquétipo da beleza. Esse fenômeno tem consequências tremendas para as mulheres, sobretudo para aquelas que não correspondem a este padrão ocidental, impactando negativamente a formação de suas identidades. Em última análise, as mulheres sul-coreanas sofrem o desdobramento das pressões impostas pelos padrões ocidentais, tornando-as predispostas a submeter-se a procedimentos cirúrgicos.
Palavras-chave: cirurgia plástica; Coreia do Sul; Teoria Feminista; padrão de beleza.
RESUMEN
El fenómeno de la cirugía plástica ha aumentado a nivel mundial, este aumento puede atribuirse a la creciente presión que enfrentan las personas debido a los estándares de belleza actuales. En este sentido, Corea del Sur es considerada líder mundial en procedimientos quirúrgicos, debido a su popularidad y normalización dentro de la sociedad surcoreana. La apariencia externa es de gran importancia cultural en Corea del Sur, especialmente para un grupo sometido a las normas de belleza más rígidas: las mujeres. Este artículo pretende comprender la construcción del estándar de belleza occidental y cómo se fusiona en la cultura surcoreana. De esta manera, la Teoría Feminista de las Relaciones Internacionales, junto con el sesgo decolonial, operará como una "lente" para investigar cómo esta norma de belleza controla y limita la imagen de la mujer en una sociedad patriarcal. Además, esta investigación también busca cuestionar el estándar de belleza internacional, basado exclusivamente en rasgos europeos, que se ha propagado globalmente como el arquetipo de belleza. Este fenómeno tiene consecuencias tremendas para las mujeres, sobre todo para aquellas que no se ajustan a este estándar occidental, e impacta negativamente en la formación de sus identidades. En última instancia, las mujeres surcoreanas experimentan las crecientes presiones impuestas por los estándares occidentales, lo que las predispone a someterse a procedimientos quirúrgicos.
Palabras clave: cirugía plástica; Corea del Sur; Teoría Feminista; patrón de belleza.
ABSTRACT
The global rise in plastic surgery reflects increasing pressure on individuals to conform to prevailing beauty standards. South Korea, recognised as the world leader in plastic surgery procedures, exemplifies the popularity and normalisation of these practices within its society. Physical appearance holds significant cultural importance in South Korea, particularly for women, who face the strictest beauty norms. This article explores the construction of Western beauty standards and their integration into South Korean culture. Utilising the Feminist Theory of International Relations through a decolonial lens, this study examines how these beauty norms shape and restrict women's self-image within a patriarchal society. Additionally, it critiques the global beauty standard, rooted predominantly in European features, as an idealised archetype that influences identity formation and impacts women-particularly those who do not align with Western aesthetics. The study highlights how Western beauty standards intensify societal pressures on South Korean women, leading to a heightened propensity for plastic surgery.
Keywords: Plastic surgery; South Korea; Feminist Theory; beauty standards.
INTRODUÇÃO
A procura por cirurgia plástica aumentou significativamente nos últimos anos, o que, segundo Lourenço (2021), pode estar vinculada com a insatisfação pessoal e com padrões de beleza existentes "que exigem dessas pessoas mais do que elas podem ou se sentem capazes de oferecer" (Lourenço, 2021). Conforme os dados oferecidos pela International Society of Aesthetic Plastic Surgery (ISAPS) (2021), o número de médicos cirurgiões plásticos chama a atenção, campo onde os Estados Unidos e o Brasil lideram o ranking de profissionais com mais de 30% do total mundial. Os países asiáticos seguem a lista com China em terceiro lugar, Japão em quarto e Coreia do Sul em quinto.
A Coreia do Sul é conhecida mundialmente como um dos países que mais realiza cirurgias plásticas, e conforme o documental realizado em 2017 pela Teach Insider, o procedimento mais comum no país é a cirurgia de pálpebra dupla (blepharoplasty) (Park et al., 2019). Devido a sua popularidade e normalização, é extremamente frequente que esta operação cirúrgica seja presenteada pelos pais como forma de parabenizar suas filhas ao ingressarem em universidades (Maletta, 2016). Kim (2009) afirma que o número de sul-coreanos que vêm alterando seus traços naturais através da cirurgia plástica apresentou um aumento e, a partir do século XXI, os olhos com pálpebra dupla, com traços maiores e arredondados estão substituindo os olhos característicos do povo coreano. Este fato constitui um elemento importante na hora de oferecer uma primeira impressão, já que esta é altamente relevante entre os asiáticos, inclusive no mercado de trabalho sul-coreano, que dá ênfase à beleza (Park et ai., 2019).
Para analisar tais fatos, será utilizada a Teoria Feminista das Relações Internacionais, por trazer uma perspectiva distinta ao sistema internacional, dominado por uma visão masculina e hierarquizada. O propósito da teoria é a inserção da população oprimida e marginalizada -entendida como todos os afetados pelos discursos e práticas baseadas na hierarquia de gênero-, com o foco na desconstrução das teorias de RI que propagam ideias de dominação. É evidente, frente a esta teoria, a falta de um ponto de vista feminino que estruture as relações internacionais, como na segurança internacional e na política externa (Covolan, 2018).
Neste sentido, esta pesquisa aspira compreender o padrão de beleza, seus desdobramentos na vida das mulheres e o papel das cirurgias plásticas na Coreia do Sul, sob a perspectiva da Teoria Feminista das Relações Internacionais. Deste modo, a questão central foi definida pelas seguintes perguntas: Quais são os reflexos de um padrão de beleza ocidental imposto às mulheres globalmente? E como este padrão se reflete localmente na sociedade oriental sul-coreana?
A grande finalidade do trabalho é assimilar esses impactos, investigar e explicar a situação com a aplicação da Teoria Feminista das RI. O propósito é compreender como funcionam certas influências de padrão estético e criticar como a estrutura estética ocidental utiliza-se de inseguranças implantadas em mulheres para gerar lucro. O estudo de caso ajudará a ilustrar o problema, tendo sido escolhido o caso da Coreia do Sul, uma vez que o país é reconhecido mundialmente por suas práticas estéticas.
Sendo assim, a estrutura do texto, contém, logo depois desta Introdução, uma seção conceitual sobre a Teoria Feminista das RI. É fundamental compreender a trajetória traçada por esta teoria no Sistema Internacional, pois atende a demanda de mulheres que passam despercebidas por sempre estarem submetidas às responsabilidades "invisíveis", segundo as interpretações masculinas (Enloe, 2014). A teoria pode ser utilizada como uma lente para analisar o "mito da beleza", que funciona como um instrumento de dominação masculina sobre as mulheres, onde o gênero feminino é restrito a sua beleza e ao seu valor na sociedade patriarcal (Wolf, 1992).
A terceira parte do artigo será dedicada à apresentação conceitual e histórica do padrão de beleza. É indispensável entender a construção do padrão de beleza estabelecido desde a Idade Média e que está presente até os dias atuais, porém, com alterações estipuladas de acordo à influência social e histórica sofrida (Amaral, 2019). Será necessário também enquadrar nesta seção, as influências ocidentais que reproduzem as normas de estética a nível global e a origem da indústria da beleza responsável por propagar essa norma (Imane, 2023).
A quarta parte do artigo estará dedicada à apresentação do estudo de caso da Coreia do Sul. Busca-se explicar como são estabelecidos e romantizados, por programas de televisão, os procedimentos estéticos no país e como a imagem exterior ostenta, de uma certa forma, um status social. Nesta seção, observa-se toda a construção dos métodos cirúrgicos no país, o que aconteceu desde a aproximação com os Estados Unidos durante a Guerra das Coreias no ano de 1950 (Kim, 2009). Também serão discutidos os procedimentos cirúrgicos mais comuns na península e os impactos que geram nas mulheres sul-coreanas (Schwekendiek et al., 2013).
Por último, será realizada uma análise de contexto com base na aplicabilidade da Teoria Feminista das RI, visando averiguar as consequências do ocidentalismo para a vida das mulheres orientais.
A TEORIA FEMINISTA NAS RI
Gerda Lerner, em seu livro "A Criação do Patriarcado" (2019), desenvolve uma pesquisa analisando cerca de 2600 anos de história, cujo intuito é o de investigar a origem do patriarcado e seus efeitos na sociedade. Desta forma, para a autora, "Patriarcado, em sua definição mais ampla, significa a manifestação e institucionalização da dominância masculina sobre as mulheres e crianças na família e a extensão da dominancia masculina sobre as mulheres na sociedade em geral" (Lerner, 2019, p. 322).
O conceito de patriarcado não emergiu inesperadamente, houve um processo de desenvolvimento com base em culturas pré-históricas e da antiguidade, sendo implantado por meio de instituições como o Estado, a religião e os valores da família. Para Lerner (2019), é essencial entender o papel da mulher na sociedade e a sua participação na história, em apoio a ideia de emancipação feminina. A naturalização da sociedade patriarcal ocorreu mediante comparações elementares da cultura ocidental, tendo como exemplo a comparação aristotélica, que por meio da filosofia afirma que o gênero feminino é inferior ao dos homens (Lerner, 2019).
Como sucessão de seu primeiro livro, Lerner publica "A Criação da Consciência Feminista" (2022), buscando averiguar a formação da compreensão feminina na Europa e Estados Unidos entre 700 e 1870. Consoante a autora, dado que o mundo é conduzido por ideais patriarcais enraizados na sociedade, torna-se necessário criar a percepção de que a subordinação feminina -repleta de injustiças- não é algo natural, e sim imposto por práticas sociais (Lerner, 2022).
Entretanto, o atraso educacional entre as mulheres propiciou um processo de conscientização feminista tardio: "As mulheres, por mais tempo do que qualquer outro grupo estruturado na sociedade, viveram em uma condição de ignorância ensinada, alienadas da própria experiência coletiva por meio da negação da existência da História das Mulheres" (Lerner, 2022, p. 32). A ideia da inferioridade feminina percorre a história até a Idade Média, quando a valoração das mulheres se constituiu de acordo a uma natureza fraca e pecaminosa, que serviria como justificativa para implantar os meios de submissão aos homens (Lerner, 2022).
O controle masculino manteve a construção da ordem mundial até os dias de hoje, formatando a percepção sobre a mulher dentro da sociedade e, inclusive, na visão das Relações Internacionais. Assim, existe a ausência de uma perspectiva feminina que componha a história e a cultura global, impactando na função das mulheres, que são obrigadas a assumir uma posição invisível na sociedade, normalmente atuando em ambientes privados e responsáveis por papeis vinculados aos cuidados da família (Mendonça, 2015).
"Dessa forma, a cultura da dominação masculina -presente tanto no ocidente como no oriente- parte da ideia patriarcal, em que o homem é produtor, enquanto a mulher é reprodutora" (Mendonça, 2015, p. 16). Por muitos anos, várias instituições, incluindo a ciência, foram agentes que reproduziram tais concepções e discursos patriarcais e, a partir do contexto de dominação masculina ainda presente na atualidade, mantiveram a insuficiência de visões feministas no cenário internacional (Mendonça, 2015).
Empregando tais conceitos da sociedade tradicional para uma análise internacional, a Teoria Feminista das Relações Internacionais visa trazer uma nova interpretação, utilizando como método de estudo o papel da mulher no sistema internacional e a assimetria de poder provocada pela hierarquização de gênero. Segundo Covolan (2018), o final da Guerra Fria foi a fundamentação histórica que abriu espaço para novos campos teóricos, com uma pluralidade de assuntos, definida através da transformação do mundo bipolar para multipolar. Desde então, constatou-se o aparecimento de teorias pós-positivistas, com o fim de preencher lacunas deixadas por teorias anteriores, abordando novas concepções e questionamentos (Covolan, 2018).
A Teoria Feminista das Relações Internacionais foi o desenvolvimento desta ideia, considerada teoria pós-moderna, pela qual a "Teoria feminista é, portanto, a relação assimétrica entre homens e mulheres dentre os âmbitos sociais, econômicos, culturais e políticos" (Covolan, 2018, p. 46). As abordagens feministas pautadas nessa teoria não têm apenas o objetivo de ultrapassar a opressão do gênero feminino, mas sim, conceber uma ordem internacional em que prevaleça a justiça (Monte, 2013).
J. Ann Tickner é uma ilustre colaboradora da teoria feminista das RI: a autora defende, a partir de sua perspectiva, como a norma masculina penetra as concepções estruturais internacionais, e como isso afeta a criação de identidades e a sustentação de seus comportamentos. A masculinidade representa a hegemonia global -a personificação do Estado- que está carregada de traços masculinizados baseados em ideais ocidentais e patriarcais, acarretando condutas no sistema internacional. Por tais motivos, Tickner (2018) afirma que é necessário incluir o ponto de vista feminino internacionalmente, possibilitando a participação de mulheres em diversos âmbitos internacionais e a refutação das estruturas do Estado que beneficiam o gênero masculino.
C. Enloe também contribuiu com a base teórica feminista nas RI, com uma ótica delimitada na atuação da mulher no âmbito privado e a sua repercussão no exterior. Enloe (2014) afirma que as mulheres contribuem de uma certa forma no nível mundial, porém passam despercebidas por sempre estarem atreladas às responsabilidades "invisíveis", de acordo com as interpretações masculinas. Para esta autora, é essencial propor uma mudança em normas sociais que apenas reforçam princípios patriarcais, inserindo a feminilidade como protagonista nas Relações Internacionais (Enloe, 2014).
Em síntese, o feminismo dentro das Relações Internacionais surge para posicionar a pauta feminina em agendas e pesquisas internacionais, com o propósito de alterar o status quo vigente. As histórias, o local de fala, a participação em esferas externas, as experiências e as perspectivas são embasadas no domínio masculino, assim sendo, a Teoria Feminista das RI produz princípios com o fim de romper barreiras construídas como limitantes do papel da mulher, além de buscar questionar a criação do conhecimento propagado universalmente (Ventura e Kritsch, 2017).
Como se observa, o campo feminista das Relações Internacionais tem se consolidando gradualmente, porém, a falta da interseccionalidade ainda representa uma lacuna. O feminismo tradicional das RI realiza uma análise ainda regida apenas por mulheres burguesas, brancas e ocidentais (as que fazem parte do grupo dominante), invisibilizando a experiência de diferentes etnias. Nesse sentido, a vertente do feminismo decolonial seria uma importante óptica para pensarmos o contexto da dominação ocidental e o caso da Coreia do Sul.
A faceta do feminismo decolonial analisa as decorrências do colonialismo e compreende que gênero, raça, classe e sexualidade devem ser retratados inter-relacionalmente. Acrescentando a sua perspectiva de gênero colonial as ideias de Quijano (2005) -quem já havia elaborado a noção de raça-, Lugones (2008) apresenta uma dimensão mais profunda às questões de gênero, afirmando haver uma "estrutura binária e hierárquica" fundamentada no domínio patriarcal e heterossexual. Para a autora, na modernidade, o eurocentrismo é o centro do poder, sobrestimando o ocidente acima de outras culturas (Carvalho, 2022). São nítidas as consequências dessa dominância nas problemáticas de gênero, em que mulheres de cor1 precisam enfrentar distintas camadas de poder.
No chamado "sistema moderno-colonial" de Lugones (2008), o poder está atrelado às relações de dominação, que transparecem em campos como: trabalho, autoridade coletiva, sexo e subjetividade/intersubjetividade. Ao pensarmos em raça nessa esfera, Carvalho (2022) afirma:
A concepção de 'raça', construída pelos discursos do Ocidente, instaura hierarquias e dicotomias. Assim, pressupõe-se a existência de raças superiores e raças inferiores. No entanto, a colonialidade não se reduz a um processo de dominação e poder que estabelece classificações hierárquicas. Dessa maneira, são formuladas hierarquias entre as identidades europeias, indígenas, africanas e asiáticas e, nesse contexto, os grupos hegemônicos europeus ocupam um espaço privilegiado, sendo tidos como superiores. O eurocentrismo hegemônico marginaliza e exclui indivíduos e grupos em seu espaço geográfico e se mantém nas estruturas ontológicas das sociedades colonizadas, formando as subjetividades e intersubjetividades. (Carvalho, 2022)
As mulheres asiáticas, dentro desse contexto de dominação ocidental, são claramente impactadas. A chamada orientalização simboliza a objetificação em que as mulheres asiáticas são categorizadas, onde, de acordo com Pires (2024), essas mulheres são vistas com uma "sensualidade ilimitada", em contraste à disseminação da imagem sexualizada das mulheres, tanto por meio da mídia ocidental (mediante filmes de Hollywood) como pela pornografia. Tomando como exemplo o trabalho de campo de Pires (2024), onde entrevista mulheres chinesas, fica evidente, conforme às experiências daquelas mulheres, que os homens brancos se aproximam delas a partir da fetichização que têm instalada em suas mentes.
Nesta perspectiva, a próxima seção discorrerá sobre o conceito de padrão de beleza, como este conceito pode ser definido nas camadas sociais e como foi moldado ao longo da história. Após a compreensão da norma de beleza, é necessário entender como o conceito impacta o gênero feminino, sendo transportado para a contemporaneidade por meio do termo de "supervalorização da beleza". Na subseção, se abordará o padrão de beleza na Coreia do Sul interligado com os ideais eurocêntricos que perpassam o mundo.
OS CONCEITOS DE PADRÃO DE BELEZA
Segundo Quintela (2014), apesar de algumas decisões femininas aparentarem serem inofensivas, são, na verdade, influenciadas por uma sociedade composta pela desigualdade de gênero, que limita o sentido de autonomia feminina. Portanto, a ideia de as mulheres submeterem-se constantemente a procedimentos estéticos e aos cuidados com a beleza, funciona como uma forma de dominação masculina sobre elas (Quintela, 2014). Wolf (1992) assegura que as normas de beleza são determinadas como uma forma de controle social feminino e, segundo Quintela (2014), essa dominação é empregada na sociedade de uma forma tão sutil, que dá a entender ser somente uma escolha da mulher, não sendo vista como um eficiente instrumento masculino de controle.
Quando mencionada, a palavra "padrão" remete-nos a algo considerado uma referência, um modelo a ser seguido. O padrão de beleza estaria refletido neste conceito, porém, segundo uma concepção de teor complexo e subjetivo. É um fato que os padrões de beleza estão presentes nas entrelinhas desde a origem da sociedade e que categoricamente não são fixos, ao passar por reformulações cronológicas constantes. Ao analisar historicamente, é perceptível visualizar a procura do ideal da beleza, principalmente a partir da ideia do corpo na Idade Média: o corpo, como afirma Berger (2006, p. 54) "era a morada do cosmos, era também o veículo de comunicação com Deus e, ao mesmo tempo, continha em si mesmo o sagrado e o profano". Já o corpo durante a era da Revolução Industrial, estava enlaçado com a ideia do trabalho e das forças de produção, deixando evidente que o padrão estético passa constantemente por transformações (Novaes, 2006).
A idealização do padrão estético relaciona-se com a ideia de ser socialmente construído, com influências do contexto social e histórico (Amaral, 2019), além de estar vinculada com a separação nítida de classes na esfera da sociedade (Bourdieu, 2007), portanto, varia segundo a percepção em que está sendo analisada. Segundo Sampaio e Ferreira (2009), a partir do século XXI, existe uma valorização excessiva à estética, comprometendo a presença de outras competências (Sampaio e Ferreira, 2009). Mesmo que a beleza seja algo em constante busca, não definiria e limitaria a mulher, não sendo impeditiva de outros méritos. Entretanto, esse fator acarreta a busca constante por atingir a norma de beleza estipulada, que não somente traz consequências negativas para aqueles que entram na jornada da perfeição, mas sim, a toda população, em diferentes escalas. A imposição de um padrão de beleza implica diretamente os indivíduos, contribuindo à "construção da identidade da população submetida a sua pressão" (Sampaio e Ferreira, 2009, p. 3).
Na contemporaneidade, o termo de supervalorização da beleza é perceptível globalmente, dada a propagação de um padrão de beleza universal. Visto de maneira corrente, a sociedade está, progressivamente, cada vez mais em uma busca incansável do padrão estético, transformando esta atuação em algo normalizado (Cunha et al., 2017). Para Wolf (1992), o crescimento da preocupação com o embelezamento foi uma resposta à evolução dos movimentos feministas, um rumo para continuar perpetuando o domínio patriarcal sobre a mulher. Dado que o mundo é movido pelo mercado (Sampaio e Ferreira, 2009), a indústria da beleza terminou sendo um desdobramento desse processo. De acordo com Sampaio e Ferreira (2009), "o corpo passa a ser objeto de manipulação por parte do mercado" (Sampaio e Ferreira, 2009, p. 125).
Se refletirmos historicamente, o gênero feminino sempre participou com uma atuação significativa no mercado de trabalho, incluído o âmbito privado. Com o fervor do progresso industrial, fez-se possível a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, inicialmente na Inglaterra (Oliveira e Oliveira, 2019). A conquista de salário, mesmo que baixo, logo foi traduzida como independência financeira, o que provocou uma estratégia capitalista para inserir novamente o dinheiro em giro de consumo, visto que as mulheres, desde então, detinham poder de aquisição (Wolf, 1992).2 Para tal, foi necessário criar uma cultura de consumo propícia à expansão desse mercado, a indústria da beleza, ocasionando um crescimento de produtos estéticos em proporção ao aumento de mulheres em postos de trabalho (Wolf, 1992).
Instituído com o propósito de gerar lucro, o mercado precisa convencer o público-alvo de seus produtos relacionados à beleza, para tanto, criam-se insatisfações e inseguranças estéticas que estimulam a venda rápida de soluções. Segundo a "Dialética do Esclarecimento", de Adorno e Horkheimer (1985), a "Indústria Cultural" é o ilustre agente que desenvolve a necessidade de consumo. Conforme os autores, esta indústria reproduz circunstâncias benéficas para o comércio, as quais criam o desejo do consumo instantâneo formado pelo regime capitalista. Tais padrões culturais levariam a uma perda do livre-arbítrio do indivíduo, de modo que a sociedade estaria dominada pela vontade de consumir e o consumidor passaria a ser apenas um instrumento dentro desse modelo. A necessidade de consumo perpassaria também o conceito de lazer, que se configura como ampliação do processo de trabalho, promovendo um ciclo de retroalimentação do consumo capitalista (Adorno e Horkheimer, 1985).
De acordo com Sampaio e Ferreira (2009), o conceito de supervalorização da beleza exerce uma importante interferência na formação da identidade pessoal. Isto porque, justamente, o modelo capitalista possui o poder de transformar todos os aspectos sociais em valores e mercadorias: "é dentro de uma cultura capitalista que é possível produzir exclusão para vender inclusão" (Sampaio e Ferreira, 2009, p. 137). Assim, indivíduos que se encaixam nos padrões estabelecidos desfrutam de um certo privilégio perante a sociedade -como alcançar melhores posições e diferentes oportunidades de emprego e relacionamentos- o que, conforme apontado na Introdução, ocorre na Coreia do Sul, ocasionando a busca das cirurgias plásticas. Tendo isso presente, a seguir discute-se a formação do padrão de beleza sul-coreano.
As diferenças entre o ocidente e o oriente: o padrão de beleza na Coreia do Sul
Segundo Kim (2009), a estética é extremamente importante na Coreia do Sul, influenciando inclusive posições no mercado de trabalho e relacionamentos pessoais. Está claro que toda a sociedade é capturada pelos padrões de beleza, contudo, é indiscutível que o gênero feminino vem sendo a maior vítima de pressões estéticas desta estrutura. Conforme o The Gallup Korean Consumer Report (2015), cerca de 41% de mulheres entre 19 e 29 anos consideram a beleza como fator significativo em suas vidas, em contraposição com apenas 29% de homens sul-coreanos.3
Nesta perspectiva, na Coreia do Sul, o padrão de beleza foi transmutando ao decorrer do tempo -até o século XIX, o embelezamento estava vinculado a classes mais nobres (Choi, 2018). De acordo com Amaral (2019), a pele branca estava associada com a nobreza, característica crucial das normas de beleza vigentes no país, onde a diferenciação de classes se origina na situação dos trabalhadores do campo expostos ao sol e que, por esta razão, possuíam pele bronzeada. Assim é como o modelo contemporâneo da pele clara na Coreia do Sul decorre de práticas originadas em sua primeira dinastia, conhecida como período Joseon (1312 -1910) (Li et al., 2008).
Certo é que, na discussão da hierarquia sobre os tons de pele na Coreia do Sul, ainda havia uma questão de gênero. Segundo Kim (2020), os homens com tons de pele mais escuros eram gratificados com um "passe livre", pois eram tidos como provedores. Em contrapartida, as mulheres precisavam ser brancas para provar a sua beleza. Para uma mulher, o branco estava associado à "desejabilidade, feminilidade, beleza e pureza" (Kim, 2020, p. 83).
De acordo com Li et al. (2008), o elemento whiteness continua presente não somente na cultura asiática, mas também em culturas "não-brancas", como demonstra o aumento na comercialização de produtos que prometem clarear a pele. Mady et al. (2022) argumentam que algumas mulheres estariam propensas a gozar de maiores privilégios devido ao padrão de beleza ligado à pele branca. Aquelas que possuem características de mulheres brancas, em lugares como África, Oriente Médio, Ásia e índia, seriam consideradas mais belas. Esse fato influencia diretamente em posições de trabalho, confiança, relacionamentos e outros tantos aspectos. Atualmente, o padrão estético sul-coreano constitui-se de um corpo esguio, pele esbranquiçada, rosto com traços finos, pálpebras duplas, dentes alinhados, simetria da face e do corpo e cabelos escuros (Amaral, 2019).
Seria inútil explorar o modo em que se categorizam os padrões de beleza sem questionar-se acerca de quem estipula e impõe estes preceitos. Apesar de não ser possível referir-se a um conceito de beleza universal (Wolf, 1992), é incontestável afirmar a existência de influências ocidentais que geram normas de beleza, em boa medida, associadas aos vestígios da história colonial perpetrada pelos países europeus. Em vista disso, o padrão estético, fincado nos princípios eurocentristas e imposto por quem detém a concentração do poder na estrutura internacional, termina sendo propagado como um paradigma global; o que sem dúvida origina a realização de procedimentos estéticos que, por sua vez, apagam e alteram traços culturais com o fim de submetê-los a dito parâmetro (Brito, 2023).
Segundo Imane (2023), o eurocentrismo dá-se segundo uma forma de dominação exercida pelo meio cultural e desde a crença que lhe permite autointitular-se como o modelo mais influente internacionalmente. Opera a partir da vigência de sua hegemonia, através da qual se propagam ideais, práticas e valores a nível global, resultando em um fator extremamente importante para a formação de outras culturas. O eurocentris-mo, ademais, vincula-se a normas políticas, econômicas e educacionais, que acabam dominando outros países e alterando a balança de poder no sistema internacional, além de influenciar a visão de diferentes traços culturais. Essa mesma concepção estende-se para o padrão de beleza mundial (Imane, 2023).
A norma de beleza eurocêntrica tem por base a civilização europeia, formada por características como: pele branca com tonalidades pálidas, cabelos claros e padrões de corpos magros. Esses parâmetros de beleza são frequentemente retratados como a norma de beleza mundial, sendo fortemente difundidos entre a população de acordo a uma ideologia de beleza ocidental (Imane, 2023). Por certo, tais preceitos produzem uma consequência fundamental: segundo Imane (2023), este padrão controla e manipula a construção da identidade de mulheres situadas à margem da sociedade, como são as mulheres negras, latinas e todas as que não se encaixam na norma ocidental. Conforme a esta lógica, o corpo feminino serve à função de objeto de controle, por meio da capitalização de suas inseguranças e a propagação destas através das mídias digitais (Melo e Santos, 2020).
Além da evidente influência ocidental em outras culturas, segundo Said (2008), o ocidente controla, também, a visão mundial do oriente, muitas vezes replicando a prática do orientalismo4 (nos termos do autor), percepção esta carregada de pré-julgamentos e pela ausência de premissas e profundidade sobre a história oriental. Said (2008) demonstra, a partir de sua obra "Orientalismo", que a dinâmica estabelecida entre os dois hemisférios -oriente e ocidente- sempre foi marcada por um domínio ocidental, legitimando o processo "civilizatório" sobre o oriente (Said, 2008).
Para Imane (2023), a era da mídia possui uma porcentagem de responsabilidade na propagação desse padrão ocidental. A mídia promove de forma universal a beleza e a estética fundamentadas no ideal branco, disseminado mundialmente (Choi, 2018). Segundo Choi (2018), vários estudos apontam que existe escassez ou ausência de representação de outras etnias em revistas como Vogue e Elle, conhecidas mundialmente e que mostram apenas padrões de beleza cravados em normas ocidentais. Para a autora, a mídia utiliza-se da globalização como um meio de doutrinação da aparência ocidental, forçando, de uma maneira sutil, indivíduos a concordarem com tais normas (Choi, 2018).
Todavia, apesar das similitudes entre o padrão ocidental e o padrão sul-coreano, fruto do eurocentrismo estético, o leste asiático distingue-se quando comparado à Ásia Central e ao sul asiático, devido a que a Coreia do Sul não chegou a ser colonizada em nenhum momento por um estado ocidental, mantendo-se sob o encargo do Japão desde 1910 até o final da Segunda Guerra Mundial (Oliveira, 2021). No entanto, posteriormente, fez-se necessária uma intervenção das Forças de Paz e das Nações Unidas, durante a invasão do norte ao sul, período em que a península contou com o auxílio dos Estados Unidos e das forças da ONU (Choi, 2018).
Este acontecimento teve um impacto na construção do padrão de beleza e na incidência da civilização ocidental: segundo Choi (2018), a presença das forças de paz da ONU, na década de 1950, na Coreia do Sul, influenciou a adesão a alguns costumes estéticos entre as sul-coreanas, "como batom e esmalte vermelho e os cabelos com permanentes, sejam eles ondulados, lisos, etc." (Amaral, 2019, p. 20). Por outra parte, atribui-se um forte peso à China na formação da estética sul-coreana, dado que a Coreia foi um estado vassalo chinês durante a dinastia coreana Joseon (1392-1897) (Chen et al., 2020).
Segundo Eric et al. (2008), a existência de clareamento de pele e as cirurgias plásticas na Ásia estão vinculadas à possibilidade de aderir a uma aparência mais semelhante a de ocidente, por conta das pressões globais de inserção no padrão ocidental e capitalista. As características que compõem o padrão estético branco são internalizadas por indivíduos que não pertencem a essa condição e, por essa razão, procuram procedimentos estéticos (Choi, 2018). Para Choi (2018), as mulheres sul-coreanas são afetadas por normas eurocentristas e, por tanto, buscam alterar traços ligados à sua etnia com o propósito de assemelhar-se à imagem europeia.
Em suma, é claro que, apesar do padrão de beleza estar em frequente mudança, ainda assim existem influências que moldam o estereótipo apreciável de maneira global5 (Choi, 2018). A indústria da beleza desempenha um papel central na propagação dessa norma, que regularmente incentiva as mulheres a realizarem algum procedimento estético, visando apenas seu lucro (Wolf, 1992). O eurocentrismo, através de sua ascendência na esfera internacional, assume uma função fundamental na difusão de padrões estéticos associados à dominação de outras culturas, gêneros e classes sociais (Imane, 2023).
Diante disso, na seção seguinte se abordarão os procedimentos de cirurgias plásticas na Coreia do Sul. Para isto, é necessário compreender como as práticas cirúrgicas se iniciaram no país e como foram consolidadas; dado que o contexto histórico é extremamente importante para a análise do padrão de beleza vigente na península. Logo, empregaremos a lente da Teoria Feminista das RI de modo a examinar a repercussão de tais práticas e normas na vida das mulheres.
CIRURGIAS PLÁSTICAS E PADRÃO DE BELEZA: O CASO DA COREIA DO SUL
Conforme Kim (2009), a Guerra da Coreia em 1950 resulta no fortalecimento da medicina, quando através da associação de médicos dos Estados Unidos e da ONU inicia-se o tratamento de pacientes feridos pela guerra. Nesse contexto, médicos sul-coreanos e estrangeiros experimentaram diversas técnicas de cirurgia plástica, com ênfase na reconstrução dos afetados pelos ferimentos do conflito. Já em 1953, com o final da guerra, a Coreia do Sul via sua nação destruída; a partir de então, sua economia cresceu por via de três estágios de desenvolvimento realizados na península (Kim, 2009). Kim (2009) descreve a primeira fase, entre 1954-1957, como uma tentativa de recuperar a economia pós-guerra por meio da ajuda norte-americana, é durante essa etapa de reconstrução que se observa o início da utilização das cirurgias plásticas, graça à exposição da Coreia do Sul ao âmbito ocidental (Kim, 2009).
Nos anos entre 1958-1961, o governo de Seul toma iniciativas para controlar a inflação mediante a aplicação de políticas de impostos elevados, gastos de capitais estreitos, política monetária consistente e um orçamento equilibrado. Essas medidas deram resultado, produzindo um certo grau de estabilidade no país e, por este motivo, promovendo o ramo das cirurgias plásticas, principalmente depois dos médicos terem aprendido medicina avançada no exterior (Europa e Norte-américa) e começarem a aplicar tais práticas na Coreia do Sul (Kim, 2009).
De 1962 até a atualidade, a Coreia do Sul passa por um intenso estágio de desenvolvimento, quando o alcance de um ordenamento econômico independente conduz a um acelerado processo de acúmulo de capital referente a indústria, infraestrutura e exportações. Em 1961, foi inaugurado o primeiro departamento de cirurgia plástica no Yonsei University Severance Hospital6. Duas décadas depois, em 1985, a Korean Society for Aesthetic Plastic Surgery (KSAPS) foi fundada, contando hoje com mais de 1500 membros. A KSAPS contribuiu, dentro da Coreia do Sul, a uma grande renovação em sua área de atuação; apesar de ser relativamente recente, destaca-se pela quantidade de membros ativos e pelo rápido melhoramento da prática de cirurgia plástica, o que a levou a atingir um nível de reconhecimento internacional (Kim, 2009).
Segundo informam Schwekendiek et al. (2013), entre as décadas de 1950 a 1980, a Coreia do Sul foi dominada por governos autocráticos e muitas vezes totalitários. Neste cenário, observava-se falta de individualidade e o Estado controlava e ditava os comportamentos sociais, incluindo o ideal de padrão estético imposto pelos líderes políticos. Silveira (2019) acrescenta, além disso, como exemplo, o caso da obrigatoriedade imposta aos meninos de terem cabelos curtos durante o período da escola, aspecto implicado na construção de sua identidade masculina.
No entanto, o país sul-coreano apresentou uma mudança a partir das eleições democráticas de 1990. Este evento trouxe uma série de consequências para a península, marcando um período de liberalização da mídia sul-coreana e a possibilidade de assumir o lugar de uma potência média. Além do mais, surge, simultaneamente, a formação do mercado de consumo que induzirá a elaboração do padrão de beleza atual (Schwekendiek et al., 2013).
A sociedade sul-coreana respondeu rapidamente a esse processo: a fim de prestigiar a individualidade, iniciou-se a busca por diversos procedimentos estéticos (Schwekendiek et al., 2013). Segundo Silveira (2019), grande parte da procura por modificar as aparências estava atrelada ao mercado das celebridades e à competitividade. Em consequência, as propagandas tornaram-se, gradualmente, uma ferramenta normalizada, possuindo um caráter assertivo na propagação do corpo ideal. Segundo Silveira, "Dessa forma, a partir da década de 1990, com a democratização política e expansão do mercado de consumo, a modificação corporal deixa de ser um tabu e torna-se um fenômeno na sociedade coreana moderna" (2019, p. 26).
Schwekendiek et al. (2013) afirmam que com o início dos anos 2000, alguns padrões ocidentais referentes ao corpo ideal aparecem por meio das mídias e propõem uma mudança no padrão sul-coreano. Contudo, os autores presumem que a influência dos ideais ocidentais surge, aproximadamente, na década de 1990, como efeito do crescimento econômico que o país dispunha e da expansão do mercado de consumo, o que acarretou num maior poder aquisitivo da sociedade e nas estratégias utilizadas pela mídia para fortalecer a indústria (Schwekendiek et al., 2013).
É perceptível a mudança dos padrões estéticos sul-coreanos que antes carregavam ideais tradicionais e que, a partir dos impactos do processo de globalização, passam a ser influenciados por concepções ocidentais e derivadas do colonialismo na estruturação do padrão de beleza doméstico (Choi, 2018). De acordo com Silveira (2019), a liberalização da mídia e da indústria de consumo provocou uma resposta nas leis nacionais relacionadas à propaganda e ao marketing, como descreve: "Uma revisão da lei nacional em 1994 permitiu que as empresas de publicidade coreanas utilizassem celebridades e modelos estrangeiras, o que resultou em revistas coreanas femininas divulgando visuais ocidentais para as suas leitoras" (Silveira, 2019).
Este aspecto teve uma implicação direta na construção do padrão estético sul-coreano, como afirmam os autores Schwekendiek et al. (2013): "na contemporaneidade, apesar das mídias e propagandas serem compostas, na maioria, por modelos asiáticas, essas mulheres ainda carregam aparências parecidas com o ocidental, promovendo um semblante baseado no "euro-asiático" (Silveira, 2019).
Kim (2009) expõe que seria interessante observar essa mudança radical na Coreia do Sul em relação à quebra das tradições antigas. Segundo Lee (2006), conforme as tradições confucionistas,7 modificar traços físicos de alguém não era apenas desrespeitoso com os ancestrais, mas também potencialmente prejudicial para todos os envolvidos. De fato, alguns sul-coreanos mantiveram suas crenças tradicionais enquanto muitos adotaram a crença moderna e tornaram-se adeptos das cirurgias plásticas (Kim, 2009).
Segundo os dados oferecidos pela Business Insider (2015), a Coreia do Sul goza de reconhecimento mundial no que se refere a procedimentos estéticos, possuindo a maior taxa de cirurgias plásticas per capita e validando a situação que a leva a ser frequentemente chamada de capital mundial da cirurgia plástica. A tabela da figura 1 expõe abaixo os dados recolhidos por Won So (2022) sobre o tema:
No ano de 2020, mediante uma pesquisa que investigou questões vinculadas à aparência e cirurgia plástica na Coreia do Sul, comprovou-se que as mulheres na faixa etária dos 30 anos realizaram a maior quantidade de procedimentos cirúrgicos, seguidas das mulheres de 20 anos. Ou seja, as mulheres que viveram sua juventude após os anos 1990 fizeram mais procedimentos cirúrgicos do que as que já eram adultas na democratização sul-coreana. A modo de comparação de gênero, o lado azul-claro da tabela 1 corresponde à porcentagem de homens que realizaram alguma cirurgia plástica, e o azul-escuro à quantidade de mulheres (So, 2022).
Um dos procedimentos estéticos mais buscados no país, segundo Kim (2009), é a cirurgia de pálpebra dupla (blepharoplasty). Cerca de 50% dos sul-coreanos nascem com pálpebra única (sem dobras) e procuram realizar o procedimento a fim de criar uma aparência mais arredondada e amplia em seus olhos. O processo cirúrgico é simples e não traz futuras complicações ou efeitos colaterais, atraindo um número considerável de pessoas -mulheres em sua maioria, sendo que cerca de 50% de todas as mulheres na faixa de seus 20 anos fizeram a cirurgia das pálpebras duplas (Kim, 2009).
Na figura 2 é possível observar como funciona o procedimento da cirurgia de pálpebra dupla, enquanto a figura 3 retrata um exemplo desta cirurgia: na primeira face, observa-se a pálpebra única (mono eyelid) antes do procedimento estético, já na segunda face é perceptível a transformação da pálpebra depois da cirurgia, que agora exibe a pálpebra dupla (double eyelid).
A segunda cirurgia mais popular no país é a rinoplastia. Muitas pessoas optam por esculpir o nariz, criando uma aparência proeminente e curvada e consentindo com o padrão sul-coreano vigente (Kim, 2009). Existem vários tipos de rinoplastia, entre elas, a redução de narinas, a correção de desvios, a rinoplastia inferior, além de outras. O risco do procedimento cirúrgico é maior quando comparado à cirurgia de pálpebra dupla (Park, 2016).
O terceiro procedimento é conhecido como a cirurgia de maxilares e queixos (v line), também conhecido como contorno facial. É um procedimento mais invasivo, que altera o formato dos ossos faciais para criar uma imagem suavizada na linha da mandíbula. É fundamental buscar apenas profissionais aptos para realizar esse tipo de intervenção, pois, em caso de complicações, os efeitos colaterais são graves, havendo dificuldade de reconstrução (Park, 2016). A figura 4 apresenta o antes e depois da cirurgia v line.
Em virtude desse panorama, Park et al. (2019) afirmam através de seus estudos que a cirurgia estética na Coreia do Sul é extremamente incidente, por conta da crença de que a aparência externa exerce uma contribuição importantíssima em conquistas e relacionamentos, principalmente para as mulheres. Ocorreria uma conexão entre ser atraente e estar associado a estereótipos positivos perante a sociedade, incluindo a posse de popularidade e privilégios em certos ambientes (Park et al., 2019).
De fato, na realidade sul-coreana, muitas vezes os valores da aparência vão muito além de ser uma crença. Segundo Park et al. (2019), vários estudos sul-coreanos evidenciam que a aparência externa influencia na contratação de candidatos a empregos, por exemplo. Como demonstram esses autores, durante as entrevistas de emprego, as mulheres são avaliadas por sua postura, expressão facial e sua figura em geral, o qual mostra como o gênero feminino sofre as maiores consequências do padrão de beleza, e ademais, comprova a existência de um diferente padrão seletivo para os gêneros, visto que para os homens a aparência externa está ligada a aspectos de organização e higiene (Park et al., 2019).
Como aponta Kim (2009), a imagem contém um peso relevante no mercado de trabalho sul-coreano, principalmente por ser a forma para destacar-se dos potenciais competidores. O autor traz como exemplo a carreira de empresários e políticos, que recorrem muitas vezes à cirurgia de pálpebra dupla, dado que olhos pequenos são normalmente relacionados com estereótipos negativos -como "não carismáticos" e "não confiáveis". De certa maneira, até os homens8 enfrentam pressões estéticas no país, levando o tabu da cirurgia plástica a debilitar-se cada vez mais (Kim, 2009).
Por todos esses motivos, é perceptível a normalização da busca estética na Coreia do Sul. Kim (2009) menciona ao Dr. Kim Sung Duk, cirurgião chefe do Dream Medical Group, quem acredita ser mais um terapeuta mental do que um cirurgião plástico. Em sua visão, a cirurgia de pálpebra, por exemplo, ultrapassa as barreiras de um procedimento estético, pois, na verdade, está relacionada ao sentimento pessoal. Os indivíduos precisam estar satisfeitos e felizes consigo mesmos, por conseguinte, decidem realizar a cirurgia (Kim, 2009).
Portanto, é possível perceber um pensamento comum entre os sul-coreanos, compactuando gradativamente para a popularização da cirurgia plástica e tornando-a enraizada na cultura. Maletta (2016) confirma que muitos pais sul-coreanos custeiam a cirurgia de pálpebra dupla para suas filhas como forma de celebrar seu ingresso em universidades.9 Para o autor, a grande intenção dos pais é ajudar seus filhos a serem aceitos socialmente, quem acrescenta que a corrida da "beleza perfeita" no país tem se tornado uma jornada sem fim (Maletta, 2016).
A pesquisa publicada no Gallup Korea (2015), na qual foram entrevistados 1500 sul-coreanos (homens e mulheres) com mais de 19 anos, referente ao tema da cirurgia plástica, ilustra esta corrida pela beleza. Quando questionadas sobre suas aparências, 40% das pessoas afirmaram que estão confiantes em sua aparência atual, contra 37% que sentem-se insatisfeitos. Vale ressaltar que, entre grupos de idades mais jovens, os homens mostram ser mais confiantes acerca de sua imagem do que as mulheres, e, em contrapartida, metade das mulheres acima de 50 anos declaram não se sentir contentes, indicando perceberem o peso do envelhecimento mais cedo do que os homens.
Segundo a mesma pesquisa, na esfera da cirurgia plástica, 1% dos homens adultos realizaram algum tipo de cirurgia, em oposição a 14% das mulheres na Coreia do Sul.
Em específico, 31% das mulheres estavam na faixa dos 20 anos, 16% na faixa dos 30 anos e cerca de 10% na faixa dos 40 anos ou mais, evidenciando que, quanto mais jovem a mulher, maior a taxa de intervenções por cirurgia plástica. Nesta pesquisa, foram consideradas as experiências de cirurgia vividas por cada entrevistado, independente da frequência e do tipo. Também não foram tomados para a análise os procedimentos estéticos -como botox, laser, entre outros.
Frente a outros países, a Coreia do Sul é globalmente conhecida pelos seus procedimentos estéticos populares e acessíveis. Ao comparar o procedimento da rinoplastia nos Estados Unidos e no país sul-coreano, Jin e Whitall (2022) apontam uma diferença de preços entre os dois, além de diferentes técnicas utilizadas. Na Coreia do Sul, além da cirurgia ser menos onerosa, os cirurgiões ainda oferecem segurança maior a longo prazo e riscos reduzidos de infecções e possíveis deslocamentos (Jin e Whitall, 2022).
O fato de que o país proporcione uma grande oferta de procedimentos e facilidade de acesso resulta em preços razoáveis de cirurgia plástica. Por causa dessa situação, o turismo-médico na Coreia do Sul elevou-se nos últimos tempos; o preço acessível começou a atrair diversas pessoas, cuja grande maioria desloca-se de países como a China e o Japão (Jin e Whitall, 2022).
Dessa maneira, é possível afirmar que o tipo de relação com a beleza que os sul-coreanos experimentam ultrapassa as concepções baseadas unicamente na fisionomia e no bem-estar, disseminando-se também como forma de inserção na sociedade. Assim, a indústria da beleza sul-coreana comercializa diversos procedimentos e produtos estéticos com o propósito de corrigir as "imperfeições" catalogadas pelo padrão estético do país (Federizzi, 2018).
Não obstante, a ideologia propagada pela cultura de consumo assume que o indivíduo tem o poder de escolha e controle do seu corpo, com o fim de modificá-lo e torná-lo mais atraente frente aos seus desejos pessoais. A contradição estaria dada pelo fato de que o sujeito desperta seus desejos a partir de corpos padronizados, impulsionados pela mídia e por práticas discursivas constantemente reiteradas (Federizzi, 2018).
Amaral (2019) argumenta que a mídia intervém, até os dias atuais, na construção dos padrões de beleza ao redor do mundo, impactando no consumo de produtos e procedimentos estéticos. Os sul-coreanos são bombardeados com propagandas estéticas de maneira sucessiva, "tanto online, quanto offline, como em redes sociais, sites, banners em ruas, como outros" (Amaral, 2019, p. 27).
Tomamos como referente o programa de televisão sul-coreano chamado Let Me In, no qual participantes argumentam diante de um painel de cirurgiões reconhecidos de Seul a necessidade de realizar uma renovação cirúrgica, dadas as suas características físicas e a falta de dinheiro para realizar algum procedimento estético. No final de cada episódio da série, o participante experimenta uma transformação por meio de cirurgias plásticas, tornando-se, em alguns casos, irreconhecível (Yusriana et al., 2016). A figura 6 mostra uma das participantes, antes e depois dos procedimentos cirúrgicos.
Segundo Yusriana et al. (2016), a série recebeu críticas desde sua primeira semana de transmissão, pela suspeita de ser uma promoção tácita à cirurgia plástica. Durante uma coletiva de imprensa, o produtor Park Hyun Woo rebateu as polêmicas do programa afirmando que Let Me In não é apenas sobre cirurgia plástica, segundo ele, a série funciona como um mecanismo para mudar a vida das mulheres e fortalecer posicionamentos de confiança, auxiliando pessoas que sofrem com deformidade genética a se inserirem na vida social (Yusriana et al., 2016).
Apesar da refutação das críticas, o programa trata a questão da cirurgia plástica como uma necessidade, seja para ter segurança com o seu corpo ou garantir um emprego no futuro, influenciando, desta forma, o comportamento dos consumidores. A série cria uma narrativa por cada episódio, utilizando-se da história comovente de um participante que irá receber o prêmio da cirurgia plástica, autenticando, de maneira implícita, que o procedimento cirúrgico é, provavelmente, a única solução possível, ademais de acentuar uma estratégia de marketing (Yusriana et al., 2016).
A obsessão com a aparência marca uma época social moderna na Coreia do Sul, sendo responsável por gerar consequências profundas (Schwekendiek et al., 2013). De acordo com Schwekendiek et al. (2013), a fixação com a beleza na península está vinculada ao fortalecimento da mídia sul-coreana, que apresenta um nível de poder perante uma sociedade recentemente democratizada e guiada pelo mercado de consumo.
Como efeito deste fenômeno, os indivíduos entram numa jornada incessante pela busca da perfeição. Deste modo, o caso de Hang Mioku demonstra como a obsessão por procedimentos estéticos transforma-se em algo prejudicial. Considerado um dos casos mais chocantes da Coreia do Sul, Hang Mioku, após sua primeira cirurgia plástica, acaba desenvolvendo um vício pela estética, repetindo o procedimento de aplicação de silicone inúmeras vezes. Mioku, visando obter a sua melhor versão, sem apresentar rugas e mantendo uma pele suave, começou a injetar óleo de cozinha em seu rosto até o ponto de uma parte facial terminar deformada (Teng et al., 2019).
Movimentos de manifestações contrárias aos rígidos padrões de beleza começaram a surgir na Coreia do Sul. A Seoul Transportation Corporation anunciou uma medida de inovação da publicidade dos metrôs, com a proibição de propagandas referentes à cirurgia plástica para o ano de 2022. O motivo por trás dessa ação, segundo a corporação, foi o de dar uma resposta à percepção negativa que os anúncios de procedimentos estéticos geravam nas pessoas, incentivando modelos de aparência e visões discriminatórias em relação às mulheres. A corporação declarou: "Reduziremos drasticamente os anúncios comerciais do metrô e mudaremos o paradigma para anúncios culturais, artísticos e de serviço público" (Seoul Co. Kr., 2017).
Por fim, a companhia de metrô da Coreia do Sul não viabilizou nenhum tipo de campanha contra os rígidos padrões de beleza sul-coreanos, apenas publicaram uma resposta oficial para todos os protestantes. As propagandas começaram a desaparecer, eventualmente, mas, por conta das compras de anúncios existentes, a Seoul Transportation Corporation esperava que até o ano de 2022 as promoções à cirurgia plástica fossem eliminadas completamente (Hu, 2018). Até o momento, não foi possível encontrar nenhuma informação que comprove efetivamente a ação do metrô de Seul.
Outro exemplo do descontentamento de jovens sul-coreanas é o movimento "fuja do espartilho", que dá vazão ao pensamento feminista em busca de liberdade a respeito dos padrões de beleza. Seu nome faz alusão ao momento em que feministas protestaram, em 1986, contra o concurso Miss América e as opressões acerca da estética feminina. A fotógrafa sul-coreana Jean Bora documentou mulheres que fugiam das pressões sociais e dos severos padrões estéticos vigentes no país. Bora utilizou a lente de sua câmera para registrar a situação real das mulheres e não como deveriam ser frente à sociedade. Jean disse em entrevista para a NPR. "Eu queria que esta exposição destruísse a ideia socialmente definida de uma mulher" (Kuhn, 2019).
O movimento "fuja do espartilho" possui grande visibilidade nas mídias sociais, onde mulheres se expressam de forma bastante ativa contra os padrões de beleza. Mulheres sul-coreanas encontraram aí um espaço para combater produtos de beleza e para cortar seus cabelos curtos, encorajando outras meninas em suas redes sociais. A professora do Instituto de Corpo e Cultura da Universidade Konkuk em Seul, Yoon-Kim Ji-Young, declara que, tradicionalmente, o êxito mais importante da mulher sul-coreana é a sua beleza, marcando sua posição social. Em sua perspectiva, o "fuja do espartilho" não tem o objetivo de destruir por completo a indústria da estética, na realidade, o objetivo é corromper o patriarcado e promover a liberdade feminina (Kuhn, 2019). A partir disso, se desenvolverá na próxima seção a discussão sobre a crítica feminista e as Relações Internacionais.
A teoria feminista e as Relações Internacionais
Existem diferentes vertentes para analisar diferentes assuntos, por essa razão, é necessário compreender a circunstância sul-coreana por completo. Nessa realidade, a prática da cirurgia plástica representa uma questão complexa, na qual as pessoas se submetem a procedimentos estéticos almejando obter algum benefício, visto que, como já discutido nesta seção, na Coreia do Sul, a beleza não constitui apenas uma situação pessoal, refere-se a um peso social dentro do país (Elfving-Hwang, 2013). Segundo Elfving-Hwang (2013), a procura por procedimentos estéticos na Coreia do Sul está vigorosamente ligada ao tema do pertencimento e suas correspondentes posições sociais.
Todavia, por que existe a diferença das pressões estéticas entre os gêneros? No país sul-coreano, de acordo com Anson Au (2023), além da insegurança financeira e social, a relação conjugal é um dos principais fatores para a busca de procedimentos estéticos. A instituição do casamento é transmitida por gerações sul-coreanas fieis às crenças tradicionais, nas quais as mulheres devem alcançar seu sucesso através do casamento. Por meio de suas pesquisas, Anson Au (2023) afirma que inúmeras sul-coreanas recorrem a procedimentos cirúrgicos como uma forma de agradar aos homens e conquistar "bons" maridos. Sob tal perspectiva, Enloe (2014) explica os papeis que as mulheres desempenham nas RI, alegando que:
… os governos e a sociedade manejam uma variedade de ferramentas para militarizar o gênero, nos quais os homens assumem os papéis de indivíduos prontos para defender o interesse nacional, ao passo que as mulheres necessitam aceitar pressupostos específicos sobre maternidade, casamento, "trabalho não qualificado" e políticas para assegurar certos tipos de relações sexuais, temáticas que perpassam uma socialização feminina com vistas à submissão. (Paiva, 2021)
Em vista disso, a teoria feminista problematiza o padrão de beleza estipulado a todas as mulheres. O fato do seu "valor" ser atribuído a sua aparência física é extremamente limitante para a atuação feminina dentro da sociedade, gerando uma série de problemas para as mulheres (Santos, 2021). Neste sentido, a indústria da beleza, auxiliada pelos anúncios que romantizam os procedimentos estéticos, conduz as mulheres a passarem por processos arriscados a fim de compactuar com a norma do padrão vigente (Kwak, 2021).
Desde essa ótica, é preciso proceder com cautela ao avaliar certos discursos feministas, uma vez que é comum se deparar com tendências neoliberais; o neoliberalismo sugere que a liberdade não passa de uma escolha, com base na premissa de que as decisões são individuais e o autointeresse deve ser priorizado. Bell Hooks (2019) manifesta em suas obras que o feminismo é uma luta política: "não se trata de separar teoria e prática, mas de entender o potencial radical, coletivo, desestabilizador das desigualdades de gênero, raça, classe, etnia e sexualidade a partir do movimento político feminista" (Sarmento, 2022; apud Hooks, 2019).
O feminismo eurocêntrico não é suficiente para acobertar toda a multidisciplinaridade do mundo, principalmente pelo fato de estar respaldado, sobretudo, em emblemáticas ocidentais. À luz do feminismo decolonial, a expressão do feminismo (eurocêntrico) como uma aspiração universal é imprudente, pois omite a existência de mulheres não brancas e de diferentes culturas, elemento que só salienta a colonialidade (Carrizo e Ferrara, 2021).
Como discutido nas seções 3 e 4, o padrão de beleza sul-coreano encontra-se claramente tocado pelo eurocentrismo, fazendo com que a beleza ocidental, de uma certa maneira, substitua o ideal de beleza local, num contexto em que as mulheres sul-coreanas se sentem dependentes de procedimentos cirúrgicos inicialmente pensados para mulheres ocidentais (Kwak, 2021).
Conforme Kwak (2021), o ocidente é responsável por tal acontecimento, já que detém o poder de determinar normas como se fossem conceitos universais. Para os ditames da cultura ocidental, as características orientais são indesejáveis, carregadas de estereótipos raciais. Um exemplo citado pela autora é a falta de representatividade asiática -em papéis de liderança, atores principais, etc.- nos Estados Unidos, apesar de existirem inúmeros asiáticos residentes no país norte-americano (Kwak, 2021).
Deste modo, é relevante destacar o quanto as mulheres sul-coreanas são impactadas pelos rígidos padrões de beleza. Os motivos para a difusão desse padrão pautam-se na combinação de dois fatores: o "mito" da beleza que atravessa a sociedade -na qual a aparência externa da mulher funciona como ferramenta de controle patriarcal, limitando a mulher apenas a sua beleza10 diante da sociedade (Wolf, 1992), e a propagação da beleza ocidental como objetivo universal, promovida pela mídia internacional, dominada pelo ocidente (Imane, 2023).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os novos estudos pós-positivistas abrem espaço para as vozes marginalizadas no sistema internacional e, nesse sentido, a Teoria Feminista das Relações Internacionais foi e continua sendo um grande marco na disciplina. A versão original da teoria traz temas importantes -como, por exemplo, questionar todo o conhecimento produzido pelo homem- mas, também acaba esbarrando em outra generalização, ao terminar representando o grupo dominante de mulheres (brancas, burguesas e ocidentais). A partir desse olhar, o rumo do feminismo colonial foi crucial para rebater as tendências geradas pelo ocidente e difundidas de maneira universal.
O feminismo decolonial operou, então, como uma "lente" para averiguar o fenômeno da construção do padrão de beleza global que, em suma, abala a concepção da identidade do gênero feminino. Além de fabricar uma estética ideal, o ocidente também cria imagens estereotipadas de mulheres de outras regiões, contribuindo para sua opressão. A abordagem decolonial reconhece que o feminismo deve ser analisado sob diferentes ângulos e não deve ser diminuído e generalizado unicamente pelo aspecto do gênero. De fato, gênero, raça, classe e sexualidade precisam estar ligados, garantindo assim, uma visibilidade maior de todas as mulheres no plano internacional.
Convém recordar as perguntas centrais desta pesquisa: Quais são os reflexos de um rígido padrão de beleza ocidental imposto às mulheres globalmente? E como este padrão se reflete na sociedade oriental sul-coreana? As consequências deste padrão são severas para as mulheres, principalmente pelo fato de o paradigma de beleza ocidental estar ordenado, especificamente, ao redor da civilização europeia, ou seja, está carregado de atributos da raça branca, o qual incide na formação da individualidade de todas as mulheres que não se inserem nessa norma de beleza global. As sul-coreanas sofrem, assim, com a influência do ocidente, sendo constantemente pressionadas a realizarem procedimentos cirúrgicos para atenderem a este ideal.
Em vista disto, foram levantadas duas hipóteses responsáveis pelo desejo acentuado de alcançar essa estética ideal: a indústria da beleza e o eurocentrismo. A primeira variante, segundo Adorno e Horkheimer (1985), é explicada pela "indústria cultural", causante da vontade de consumo destinada ao lucro, na qual a indústria cria contextos promissores para vender resultados imediatos. No sistema capitalista, a indústria da beleza aproveita-se das inseguranças implantadas através da propagação de uma norma estética, com o fim de oferecer uma solução.
A segunda constatação, conforme Imane (2023), remete ao padrão eurocêntrico, difundido de maneira universal, como se configurasse a referência do ideal de beleza -impulsionado pelas mídias, em sua totalidade. Evidentemente, este elemento provoca graves consequências e repercute em todas as mulheres que não se integram ao padrão baseado em traços europeus. Ademais, Said (2008) demonstra como o lado ocidental, além de definir vários conceitos como globais, intervém na construção da percepção do lado oriental.
É possível relacionar os dois princípios para investigar o cenário da cirurgia plástica na Coreia do Sul. Foi somente após o desenvolvimento e estabilização da economia na península que o interesse em relação à estética aumentou. A globalização e a mídia tiveram uma grande participação na formação do padrão sul-coreano, dado que trouxeram propagandas de ideais ocidentais para dentro do país por meio da liberalização da mídia coreana.
Há uma pressão estética rigorosa sobre as mulheres, principalmente tendo em vista o peso social da aparência na Coreia do Sul. Este fator auxilia na normalização de procedimentos estéticos dentro do país, o que faz com que a prática da cirurgia plástica seja extremamente comum. Apesar de ser algo popular, não obstante, existem movimentos, entre as mulheres sul-coreanas, contrários aos padrões de beleza estipulados.
Cabe ressaltar que o presente artigo, em nenhuma circunstância, orientou-se pelo intuito de criticar mulheres que procuram algum tipo de procedimento estético. O grande propósito da pesquisa foi averiguar quais são os motivos que influenciam a definição do padrão de beleza e as pressões que perseguem as mulheres. É importante também destacar que, na sociedade patriarcal, o gênero feminino está constantemente sujeito a julgamentos, independentemente de terem realizado ou não alguma cirurgia plástica, por essa razão, é fundamental combater os comentários e comportamentos misóginos dirigidos às mulheres de todas as culturas.
NOTES
1 Atualmente, o feminismo de cor é compreendido como o feminismo para mulheres não brancas.
2 No entanto, segundo a perspectiva de Federici (2017), a mulher sempre ocupou uma posição informal no mercado de trabalho. Para a autora, o trabalho doméstico não remunerado deve ser considerado um dos principais alicerces do capitalismo, sendo responsável pela dominação masculina sobre as mulheres (Federici, 2017).
3 Para Wolf (1992), a posição da mulher está plenamente atrelada à sua beleza e ao seu valor e papel na sociedade patriarcal e, por esse motivo, está em grau superior de vulnerabilidade a essa influência e imposição.
4 Para o autor, o orientalismo simboliza a construção da imagem do lado oriental pelo ocidente, nesse, o discurso carregado de dominação ocidental cria a narrativa do oriente (Said, 2008).
5 Ao analisar o contexto asiático, é importante considerar o conceito de "pan-asiático", que retrata a combinação de características ocidentais e asiáticas, resultando no ideal de beleza predominante na região. Logo, ponderando sobre a obsessão pela pele branca asiática, reconhece-se haver influência ocidental na formação desse padrão, porém, é igualmente inegável que há influências asiáticas que contribuem para a estruturação desse modelo. Yip et al. (2019) afirmam que o padrão de beleza "pan-asiático" favorece algumas "raças" asiáticas e inferioriza outras -como as do sudeste asiático, por apresentarem tom de pele mais escuro; dito fenômeno vem sendo um limite à diversificação de etnias na Ásia (Yip et al., 2019).
6 O Several Hospital, fundado em 1885, foi o primeiro hospital inspirado no estilo ocidental a instalar-se na Coreia do Sul. Foi instituído pelo missionário estadunidense Allen, quem eventualmente alterou seu nome para Jejungwon e edificou esta instituição médica prática (Severance Hospital, 2023).
7 O confucionismo é uma das religiões presentes na Coreia do Sul, foi implantada durante a dinastia Joseon (1312- 1910) e funcionava como um "código de conduta ética", onde era fundamental render cultos aos ancestrais a partir da lealdade e piedade filial (Korean Culture Center, 2015).
8 Choi (2015) expõe no Insider que cerca de 15% a 20% dos clientes em sua clínica são homens.
9 Jin e Whitall (2022) relatam que 20% dos sul-coreanos citaram a influência dos pais como fator principal para realizar algum tipo de cirurgia plástica.
10 É evidente que as mulheres não sofrem apenas pressões estéticas na sociedade patriarcal. Há uma grande pressão em diversos campos, como o acadêmico, o profissional, etc.
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