Mobilidades transnacionais e trabalho sexual de homens brasileiros na Europa*

Transnational mobilities and sex work of brazilian men in Europe

Movilidades transnacionales y trabajo sexual de hombres brasileños en Europa

Guilherme Rodrigues Passamani**

* Esta publicación se deriva de la Tesis Doctoral-Uma etnografía com homens brasileiros que fazem trabalho sexual em Portugal- defendida por el autor en el Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL).

** Doutor em Ciências Sociais, Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Brasil; doutor em Antropologia, Instituto Universitário de Lisboa (ISCTE-IUL). Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), Brasil. [guilherme.passamani@ufms.br]; [https://orcid.org/0000-0001-5019-0832]

Recibido: 20 de noviembre de 2024 / Modificado: 14 de febrero de 2025 / Aceptado: 20 de marzo de 2025

Para citar este artículo: Rodrigues Passamani, G. (2025). Mobilidades transnacionais e trabalho sexual de homens brasileiros na Europa. Oasis, 42, 165-185. DOI: https://doi.org/10.18601/16577558.n42.08


RESUMO

O artigo explora a mobilidade transnacional de homens brasileiros que realizam trabalho sexual na Europa, com foco em Portugal. A pesquisa, multissituada e qualitativa, envolveu entrevistas e observações entre 2020 e 2023. Destaca-se a noção de estrangeiro como elemento simbólico estratégico no mercado sexual, onde a brasilidade agrega valor ao serviço prestado. A mobilidade emerge como um traço distintivo, tanto como estratégia econômica quanto como construção de identidade. Baseado em conceitos de heterotopia, não-lugar e ethnoscape, o estudo analisa os trânsitos europeus desses homens, suas relações sociais e os desafios enfrentados, como barreiras linguísticas, burocráticas e financeiras. Apesar da precariedade inicial, muitos utilizam estratégias como redes de apoio e georreferenciamento para ampliar suas oportunidades. A circulação entre praças reflete uma dinâmica fluida e transitória, onde os sujeitos reconfiguram espaços e identidades. O trabalho sexual é retratado como meio de viabilizar projetos individuais e familiares transnacionais.

Palavras-chave: trabalho sexual; homens brasileiros; mobilidades transnacionais; Europa.


ABSTRACT

The article explores the transnational mobility of Brazilian men engaged in sex work in Europe, focusing on Portugal. This multisited, qualitative research involved interviews and observations conducted between 2020 and 2023. The notion of the "foreigner" stands out as a strategic symbolic element in the sexual market, where Brazilian identity adds value to the service provided. Mobility emerges as a distinctive feature, serving both as an economic strategy and a form of identity construction. Based on concepts such as heterotopia, non-place, and ethnoscape, the study examines these men's European trajectories, their social relations, and the challenges they face, such as linguistic, bureaucratic, and financial barriers. Despite initial precarity, many leverage strategies like support networks and georeferencing to expand opportunities. Circulation among locations reflects a fluid and transitory dynamic, where individuals reconfigure spaces and identities. Sex work is portrayed as a means to facilitate transnational individual and family projects.

Keywords: Sex work; Brazilian men; transnational mobilities; Europe.


RESUMEN

El artículo explora la movilidad transnacional de hombres brasileños que realizan trabajo sexual en Europa, con un enfoque en Portugal. Esta investigación, de carácter multisituado y cualitativo, incluyó entrevistas y observaciones realizadas entre 2020 y 2023. Se destaca la noción de "extranjero" como un elemento simbólico estratégico en el mercado sexual, donde la identidad brasileña agrega valor al servicio ofrecido. La movilidad surge como una característica distintiva, funcionando como estrategia económica y como un medio de construcción de identidad. Basado en conceptos como heterotopia, no lugar y ethnoscape, el estudio analiza los tránsitos europeos de estos hombres, sus relaciones sociales y los desafíos que enfrentan, tales como barreras lingüísticas, burocráticas y financieras. A pesar de la precariedad inicial, muchos emplean estrategias como redes de apoyo y herramientas de georreferenciación para ampliar sus oportunidades. La circulación entre lugares refleja una dinámica fluida y transitoria, donde los sujetos reconfiguran espacios e identidades. El trabajo sexual se presenta como un medio para materializar proyectos transnacionales individuales y familiares.

Palabras clave: trabajo sexual; hombres brasileños; movilidades transnacionales; Europa.


INTRODUÇÃO

Eu gostaria de refletir nesse artigo sobre a mobilidade de homens brasileiros para Portugal, sobre a preparação das viagens, sobre as viagens improvisadas, sobre o sonho europeu, sobre a circulação pela Europa, tudo isso no âmbito do trabalho sexual e das dinâmicas do mercado sexual. O imaginário de um Portugal que é expectável desde o Brasil. Uma realidade de Portugal que é encontrada quando estão lá.

Há diferentes eixos para abordar isso, mas dois que parecem potentes: a noção de estrangeiro, que articularia o ser/estar em uma nova cidade/país e as relações daí advindas; bem como o trânsito por Portugal e pela Europa para a realização do trabalho sexual.

A pesquisa maior, da qual esse artigo faz parte, investiga o trabalho sexual de homens brasileiros em Lisboa, Portugal, na Europa (Passamani, 2024). A pesquisa atentou aos fluxos, aos trânsitos, às relações e às performances desses homens envolvidos com os mercados do sexo em contextos transnacionais na condição de escorts, isto é, como homens que fazem trabalho sexual (Passamani, 2023). A investigação caracterizou-se como multissituada, ainda que tenha tido Lisboa como base.

Ela foi desenvolvida em 10 países europeus e em 5 estados brasileiros, entre setembro de 2020 e março de 2023. Para tanto, foi levada a cabo uma revisão sistemática da literatura sobre trabalho sexual realizado por homens, bem como observações de situações, conversas informais e entrevistas semiestruturadas nos diferentes contextos etnográficos. Entre o grande grupo de interlocutores, constam 30 escorts brasileiros, 4 frequentadores da "noite gay" de Lisboa e 4 clientes de escorts brasileiros, acionados a partir de diferentes frentes de entrada no terreno.

Utilizei sites de anúncios como meio para me conectar com os escorts brasileiros que trabalhavam em Lisboa e outras cidades de Portugal. Ocupei-me de mapear os sites portugueses e estrangeiros de anúncios de trabalho sexual de homens. Cheguei a um número aproximado de 300 perfis de homens brasileiros que se anunciavam nas diferentes plataformas. Tentei contato com todos esses perfis. Desses contatos, resultaram as primeiras aproximações com o campo de pesquisa. As redes de interlocutores, embora não se configurassem exatamente redes no sentido estrito do termo, se formaram - basicamente - a partir de cinco frentes: os sites de anúncios, um interlocutor-base chamado André, uma ONG portuguesa, a circulação pela "noite gay de Lisboa" e a minha rede de relações pessoais.

O artigo está organizado em três partes. Em um primeiro momento, reflito sobre a condição de estrangeiro nas cidades de destino e os investimentos necessários para conseguir estabelecer relações que aproximem esses diferentes mundos. Em um segundo momento, analiso as perambulações europeias dos interlocutores. Logo depois, atento para os circuitos organizados por eles, cujo intuito é transitar rumo a destinos lucrativos no âmbito do trabalho sexual. A capacidade de mobilidade, tanto por Portugal como por países do continente, é um traço de distinção entre alguns desses sujeitos. As mobilidades, então, são agenciadas de forma estratégica1.

ESTRANGEIROS E A VIDA URBANA DAS CIDADES

Georg Simmel (1990), no começo do século XX, compreendia o estrangeiro, a partir das experiências dos judeus, desde a errância e a libertação em relação a um espaço. O estrangeiro seria aquele sujeito que não estaria "preso", "fixo" a um determinado ponto. Ele não é apenas um viajante. Ele é diferente. Ele não está sempre de passagem, ele chega e fica, quem sabe por muito tempo, estabelece vínculos, cria relações. No entanto, a característica central desse sujeito é que ele não é daquele lugar, embora esteja naquele lugar. Trata-se de uma figura ambígua: próxima e distante. Mantém algumas de suas características de origem, mas agrega outras a partir das relações que vai desenvolvendo onde chegou. Portanto, a liberdade seria o valor por excelência do estrangeiro. No final das contas, essa seria a sua grande vantagem.

O contexto propício para a atuação do estrangeiro seria a cidade. Pode-se dizer que o estrangeiro, não necessariamente internacional, mas aquele que chega a um lugar que não é seu de origem, mas ajuda a produzir uma outra dinâmica no local onde chega. Esse processo, então, seria um fator determinante para fazer com que a cidade, geralmente grande e metropolitana, constituísse um novo modo de vida, caracterizado a partir destas diferentes relações entre grupos e pessoas muito distintas entre si. Seria esse "espírito", esse mana, que daria às cidades a aura de urbana.

Segundo Jean Rémy e Liliane Voyé (1994), a ideia de urbanização é devedora de um elemento que se torna central para organizar o espaço e a sociedade. Esse elemento é a mobilidade. A mobilidade é caracterizada como a ação de transitar, o movimento, os fluxos que permitem contatos e relações entre sujeitos diversos em diferentes contextos. Para os autores, a urbanização é entendida "como um processo que integra a mobilidade espacial na vida cotidiana" (p.13).

Rémy e Voyé agregam alguma complexidade à percepção da Escola de Chicago, que, por meio da noção de morfologia sociodemográfica, caracterizava o modo de vida urbano a partir do volume, densidade e heterogeneidade (Silvano, 2017). Essa complexidade agregada, que se apresenta como um fator crucial, é justamente a mobilidade. O que daria dinâmica à morfologia sociodemográfica seria a mobilidade. Ela seria o eixo que produziria o salto para um contexto tornar-se urbano. Essa mobilidade fora garantida, sobretudo, pelos estrangeiros que chegavam a Chicago. Tais fenômenos foram observados em outras cidades do mundo. A chegada dos estrangeiros muda, de forma temporária ou mais duradoura, as relações desenvolvidas na vida citadina.

Em meu campo de pesquisa, os estrangeiros de quem falo são homens brasileiros. Esses homens brasileiros estão em Lisboa e em outras cidades de Portugal para atuar nos mercados do sexo como escorts (homens que fazem trabalho sexual). De alguma forma, eles desassossegam os modelos "tradicionais" de organização desse espaço e, por meio de diferentes estratégias, criam novas possibilidades e tramas para as trocas afetivas, eróticas e sexuais. Aqui, ser estrangeiro no mercado sexual é um instrumento da própria profissão desses brasileiros. Trata-se, além de uma origem nacional, por óbvio, de um componente simbólico do "produto" que é comercializado.

No caso de meus interlocutores, estrangeiros em Portugal, a projeção de um futuro promissor com as viagens e também a partir do envolvimento com o trabalho sexual pode ser analisada a partir do que Gilberto Velho (1994) definiu como projetos em um campo de possibilidades. A construção de um projeto de vida a partir de determinadas ambições, desejos e necessidades é concomitantemente disputada por outros projetos construídos individualmente ou em grupos.

O trabalho sexual, após suas primeiras experiências, se apresenta como opção viável e, principalmente, mais rentável frente a outras ocupações. Isto é, as tensões envolvendo os projetos de outros grupos, como de suas famílias e de amigos, singularizam suas experiências (Koury, 2015, p. 34). E, nestes casos, dentre uma gama, o trabalho sexual se torna uma opção.

Se as fronteiras da União Europeia seduzem pela suposta facilidade de mobilidade (na prática não é bem assim), há uma série de outras fronteiras que servem, efetivamente, como impedimentos para a realização dos sonhos. As fronteiras, para além de espaços físicos e demarcações geográficas, segundo Jonathan Xavier Inda (2011), não devem ser compreendidas apenas nos limites de zonas de criminalização e policiamento, mas precisa estar muito clara a sua dimensão como lugar político. Aliás, como Inda destaca, há uma produção por parte do Estado da categoria "imigrante ilegal" no sentido de despessoalizar o sujeito, criminalizando-o.

Isso é especialmente significativo, pois alguns interlocutores que conseguem transitar pela Europa se apressam em dizer eu posso andar por todo lado, pois eu tenho residência. Uma referência a ter conseguido os documentos necessários para a obtenção da Autorização de Residência em Portugal, ou seja, ter a regularização de sua situação para permanência no país e poder circular pela União Europeia. Segundo o Alto Comissariado para Migrações (ACM-PT), a autorização de residência é um documento, emitido sob a forma de um título de residência, que permite aos cidadãos estrangeiros residir em Portugal durante um certo período de tempo ou por tempo indeterminado2.

O título de residência português ou o passaporte europeu (para aqueles que já conseguiram a cidadania portuguesa ou italiana, casos que apareceram em meu campo) pode abrir fronteiras e alargar horizontes. Para Nina Schiller, Linda Bash e Cristina Blanc (1995), a forma mais hegemônica de pensar os processos migratórios ignorava uma rede central para esses eventos que são as conexões que as pessoas mantêm com seus países de origem. Os laços, os vínculos, as relações não são desfeitos durante a viagem. Eles transformam-se. Eles são ressignificados.

Eles são mantidos. No caso de meus interlocutores, isso está muito presente. No Brasil, está a família e estão os amigos que cuidam dos investimentos fruto do trabalho sexual em Lisboa, Portugal, na Europa. Caso dê tudo errado e a gente fique falido mesmo, temos o Brasilpra voltar, repetia Yuri3.

Além do vínculo afetivo que não se rompe, os laços são reafirmados todos os meses a partir das remessas de dinheiro. Afinal, conforme Schiller, Bash e Blanc (1995) relatam, o dinheiro mandado todo mês, os laços familiares, os amigos, os projetos políticos, tudo isso está no país de origem. A Europa é a forma de tornar mais viáveis os projetos. No começo da tese, quando apresentei André, meu principal interlocutor, ele disse que estava diferente porque agora era europeu. Ainda que haja certo orgulho indisfarçável nessa afirmação a partir de uma série de códigos e, quem sabe, documentos que oficializem tal posição social, isso me parecia mais um uso estratégico para obter vantagens.

Schiller et al. (1995) contam que não há uma ruptura durante a experiência migratória com o mundo social e simbólico de origem das pessoas que migram. Elas continuam a se pensar como pessoas no mundo a partir destas constelações simbólicas de seus países de origem. É inimaginável o apagamento do "ser brasileiro" para os homens brasileiros no mercado sexual, afinal a brasilidade seria o "carro-chefe" do negócio ali empreendido.

A experiência de viver em um mundo social, político ou econômico, que não é o de seu país de origem, mas recorrendo a elementos de seus países de origem é fundamental. Portanto, abastecer-se de códigos que remetam ao Brasil, ou de viagens anuais ao Brasil, são algumas dessas estratégias. Zuca Da Leste4 me disse: eu preciso ser gringo na rua e zuca na cama. É preciso cumprir os protocolos europeus para tentar ter os mínimos contratempos cotidianos, burocráticos e judiciais, mas no trabalho sexual é preciso ser zuca, porque assim é demandado. Ser zuca é potente na profissão. Mais potente que ser gringo, mais potente que ser tuga5.

Percebi ao longo do trabalho de campo, que o projeto de construção do futuro das pessoas passa por circulações transnacionais que são econômicas, amorosas, afetivas. Há fluxo de pessoas, de coisas, de símbolos, de relações. Há trânsito de ideias. As pessoas acabam por se construir nos fluxos. Portanto, a perspectiva transnacional dá conta dos processos sociais que constituem os sujeitos de formas muito mais dinâmicas, integradas e complexas. O que há hoje são instrumentos que permitem olhar com outras lentes essas variações. Atentar para tempos e espaços construídos nos fluxos e nos trânsitos.

NÃO SE FICA RICO EM PORTUGAL: AS PERAMBULAÇÕES DE PRAÇA EM PRAÇA

Em 1967, Michel Foucault (1984) proferiu uma conferência em que problematizava espaço e lugar a partir das noções de utopia e heterotopia. As utopias seriam aqueles espaços que não têm lugar real. Enquanto as heterotopias, segundo ele, seriam utopias realizadas. Na percepção de Filomena Silvano (2017), seriam "espaços em que os outros espaços existentes no interior da cultura a que pertencem são representados, contestados e invertidos" (p. 91).

Os meus interlocutores são percebidos como estrangeiros no lugar que chegam. Ser estrangeiro não se resume aqui a um passaporte emitido por outro país, mas a todo um "espírito" que marca diferenças. Esses sujeitos jogam com essas marcas e as potencializam como um estimulante libidinal para a efetivação das negociações em torno do mercado do desejo sexual. Compreendo que o trânsito dos escorts rumo a lugares que viabilizem os sonhos e conquistas pode ser uma heterotopia contemporânea no sentido proposto por Foucault.

Os escorts transitam e perambulam rumo a uma Europa imaginada. Não é a Europa dos cartões postais, ainda que passem por ela e fotografem nela, o que interessa é o dinheiro e outros capitais que por ela circulam. São esses elementos que viabilizam sonhos e aumentam repertórios. Assim, eles não são apenas estrangeiros saindo de um lugar e indo para outro. Embora façam isso.

A Europa dos escorts parece constituída por lugares fora dos lugares, mas localizáveis, tal como um dos pré-requisitos para a heterotopia na leitura foucaultiana. Os lugares por onde os escorts perambulam, mesmo muito diferentes entre si, são espaços onde o desvio da norma, a fantasia e a ilusão constituem aquele lugar. Os escorts constroem múltiplas Europas que cabem nos seus projetos cambaleantes para realizar seus sonhos. Um lugar que existe no espaço, que existe fisicamente, mas monta-se e desmonta-se a cada viagem, a cada entrada e saída de um cliente diferente. A Europa dos escorts, durante suas atuações, pode ser o que o desejo e o dinheiro do cliente quiserem, desde que acordado previamente com eles.

Foucault chamou de heterotopia do desvio aqueles lugares que abrigariam comportamentos não esperados ou desejados pela moral vigente em diferentes sociedades. No que que era conhecido como "sociedades primitivas", tais lugares eram percebidos como heterotopias de crise. Entre os diferentes princípios associados às heterotopias, a noção de corte temporal cronológico é muito interessante. Nos espaços heterotópicos, é como se uma espécie de kairós (um tempo especial e imaginado, fechado em si mesmo) se sobrepusesse ao cronos (geral e ordinário). Durante este período, naquele lugar, vigora a ilusão, a fantasia, que logo depois da porta da rua não têm condições viáveis para existir. Tal princípio parece adequar-se ao que os interlocutores de minha pesquisa experimentam no trabalho sexual. Chegam a uma Europa real, diferente de uma Europa imaginada e se movem por Europas possíveis. Deslocam-se a um lugar heterotópico pelos instantes que o negócio do desejo permitir manter.

Marc Augé (1992), ao fazer uma crítica a uma noção de "lugar antropológico", propõe o conceito de não-lugar. O não-lugar é uma alternativa à percepção antropológica de lugar como sendo um território que teria a capacidade de conferir uma espécie de identidade coletiva a um determinado conjunto de pessoas. O não-lugar, para Augé, seria incapaz de conferir identidade para quem quer que fosse, pois trata-se de um espaço por onde as pessoas passam. É uma dimensão de trânsito.

A noção de não-lugar pode ser rentável para refletir sobre a perambulação de homens brasileiros para fazer trabalho sexual pela Europa. Se a Europa imaginada é diferente da Europa vivida. Se ela é transformada em um lugar social habitado por fantasias e ilusões, podemos dizer que as pessoas no exercício desse trabalho estão sempre a passar de um lugar a outro rumo à concretização do sonho que seria, quem sabe, o estabelecimento em algum lugar.

O escort e o cliente são esses sujeitos do não-lugar do trabalho sexual, sujeitos em trânsito. Ao acordar um negócio, transformam qualquer lugar em um não-lugar por um período determinado. Por exemplo, o quarto do trabalho sexual, ainda que seja, muitas vezes, o mesmo espaço físico que o escort dorme não é, definitivamente, o mesmo lugar. Para o cliente, pensar esta diferença é bem mais simples, pois ele, o cliente, ali é um viajante, um sujeito em trânsito que, quando dá sua hora, arruma-se e desloca-se de volta para "seu lugar". Augé (1992) mostra como a noção de não-lugar está bastante associada à uma ideia permanente de lugar, até porque estes trânsitos são simbólicos e podem ser interpretados como percepções: "Na realidade concreta do mundo de hoje, os lugares e os espaços, os lugares e os não-lugares emaranham-se, interpenetram-se. A possibilidade do não-lugar nunca está ausente seja de que lugar for. O regresso ao lugar é o recurso de quem frequenta os não-lugares" (p. 90).

Se os não-lugares não conferem identidade, não são espaços de permanência, se são próprios para passar, para cruzar, para estar e logo partir, isso ajuda a perceber a relação entre escorts, viagens e clientes. O desejo, a fantasia, a ilusão, a tensão libidinal é uma experiência de instantes. O que se impõe é o cotidiano, os lugares. Os não-lugares seriam estas brechas, fugas desejantes, possíveis nos contornos da norma.

Portugal talvez seja o melhor exemplo de um não-lugar no âmbito do trabalho sexual realizado por homens brasileiros. Quando ainda estavam no Brasil, boa parte dos interlocutores não tinha muita clareza sobre a vida em Portugal, que não figura entre os países mais ricos da Europa e conta com um dos ordenados mínimos mais baixos do continente, atualmente no valor de €820. Em vista disso, ao se deparar com tal realidade, não exatamente aquela imaginada no Brasil, ainda que com pontos positivos como maior segurança, maior poder de compra do salário mínimo, um serviço de saúde pública considerado satisfatório, além de acordos bilaterais que beneficiam os cidadãos do Brasil, muitos escorts brasileiros ficam decepcionados e percebem que o sonho europeu estará mais distante que o imaginado. Na opinião de Nando6, "Portugal não é rota de sexo pra ninguém. Especialmente pra meninos. Não se ganha bem aqui. Não tem clientela. Só fica aqui quem não tem documento e que não fala inglês. Quanto mais idiomas você falar, muito mais propostas, muito mais chances de fechar trabalhos você tem".

Para Nando, há razões objetivas para a permanência em Portugal: documentação e idioma. Portugal funcionaria, na maioria das vezes, como a possibilidade de entrada mais "fácil" na Europa para os brasileiros. O tempo de permanência em Portugal seria aquele necessário para obter a regularização em termos de papéis paralelo ao aprendizado precário de um outro idioma, especialmente, o inglês.

O país é visto por diferentes interlocutores como ótimo para morar, mas péssimo para trabalhar. Lauro7 diz que a segurança é uma vantagem de Portugal. Isso aliado à qualidade de vida que consegue ter. Segundo ele, eu me sinto muito seguro pra tudo. Então, eu me sinto muito à vontade aqui. Uma coisa que eu não desfrutava no Brasil. Aqui tem uma tranquilidade boa. Além da suposta segurança, tranquilidade e qualidade de vida apontadas pelo interlocutor, a língua foi decisiva: eu sou uma pessoa que fala bastante. Não me comunicar seria bem difícil. Então, a língua é fundamental. Pra depois tentar outro país. Eu quero tentar um país de língua inglesa pra ficar fluente no inglês.

Dagoberto8 conta que não se trata dos escorts fazerem a opção por Portugal, mas dentro do leque disponível na Europa é o lugar possível, mais fácil. Ele aciona a regularização e a linguagem como elementos decisivos: a questão do idioma é mais fácil. Porque a gente sabe que lá no Brasil as pessoas não aprendem porra de idioma nenhum. Então, o brasileiro sai do Brasil, vem pra Europa, mas quando o cara chega aqui ele não consegue desenvolver.

Essa é uma condição que não diz respeito apenas às pessoas envolvidas com o trabalho sexual. Há uma massa de brasileiros que não sabe falar outros idiomas e que está irregular em termos de documentação em Portugal (Machado, 2009). Essas pessoas compõem basicamente dois nichos de trabalho: a restauração (nome dado ao ramo de atividades que envolve cafés, bares e restaurantes) e o setor de limpeza. Geralmente, a esses sujeitos são pagos baixos salários e eles são contratados informalmente. Algumas vezes, há uma formalização precária por meio de Recibos Verdes9 e a promessa de um contrato de trabalho no futuro, que seria efetivado mediante bons desempenhos dos trabalhadores. Yuri conta que para se regularizar em termos de documentos passou pelo seguinte processo e revelou outras estratégias:

Trabalhei no café três meses. Daí eu saí de lá depois que eu peguei a documentação. Aí a última renovação eu fiz online e nem precisou muita coisa. Então, aí hoje em dia eu pago a documentação. Eu sou contratado. Só que eu pago para uma contabilista me registrar. Eu pago todos os gastos que eu tenho da minha parte, mais da parte patronal e mais para ela fazer o bagulho também. É um trabalho fake. Eu não trabalho. Eu tenho registro. Eu tenho holerite10. Um empregado dela. Se as finanças precisarem, eu tenho.

Yuri repetia constantemente o seu desgosto em ter que estar em Portugal. Por isso, sua insistência na carreira internacional. A principal razão para entrar no país foi a facilidade do visto. Em Portugal, ele entrou como turista, com dinheiro e reserva de hotel. Depois de vencido o tempo de turista, buscou o emprego na tentativa de conseguir Recibos Verdes ou contrato de trabalho para regularizar-se (Malheiros, 2007). Ocorre que a jornada de trabalho e os baixos salários eram nada sedutores. O trabalho sexual apresentou-se como mais lucrativo e os ganhos pareciam (e confirmaram ser) mais rápidos. No entanto, não há condições de regularização. Em vista disso, o contrato fake aparece como uma opção para a obtenção dos documentos de residência, conforme mostrei antes.

Os bons clientes em Portugal, aqueles que pagam bem, são poucos e têm uma ampla oferta de serviços ao seu dispor. Logo, há preços que são mais baixos e há um poder de compra da clientela que não é tão destacado. Assim, é preciso lançar mão de muitas estratégias para manter-se competitivo. Conforme Yuri, se eu ficar só em Lisboa, eu perco tudo que eu tenho. Durante a pandemia esse cenário revelou-se ainda mais catastrófico, pois houve um aumento perceptível de homens prestando esses serviços a uma mesma clientela portuguesa. Além disso, o incremento do mercado garantido pelos turistas estrangeiros não foi percebido haja vista a proibição de viagens não essenciais, como as viagens turísticas.

Em situações normais, conforme lembra Otto11, as viagens internacionais por países europeus apresentam-se a uma parte deles como uma alternativa para conseguir quantias mais generosas de dinheiro. Ele conta que o viajar para nós é por causa do valor. O que Paris paga para mim uma hora, 150 euros, ou eu cobro 150 e me deixa 200, Lisboa, os portugueses, as pessoas daqui, oferecem 50, 70. Eu em Lisboa por causa do turista. O meu foco não é no cliente português. É no estrangeiro que está aqui, no turista. De fato, antes da pandemia, havia uma efervescência de turistas estrangeiros em Portugal. Segundo a Organização Mundial do Turismo (2020), a previsão de turistas para Portugal em 2020, era da casa de mais de 18 milhões de pessoas. Essa possibilidade, foi drasticamente alterada pela pandemia de Covid-19, que resultou em mais de 80% de cancelamento de reservas no setor hoteleiro, conforme o Instituto Nacional de Estatística de Portugal (2020).

Transitar para ser novidade em diferentes lugares parece ser uma exigência do mercado. Com ou sem pandemia. O perambular pela Europa possibilita fazer novas redes, ganhar dinheiro e depois voltar pra casa.

Sempre passo mais tempo viajando. Aqui é mais para estar em casa. Descansando. Junto com amigos. Aqui tenho alguma raiz, afinal, da Europa, aqui é onde é mais barato viver. O clima é bem bom. A comida, nem se fala. Agora, claro, lá fora tem um lance que falta muito aqui: dinheiro. Por isso eu trabalho lá e vivo aqui. (Yuri)

Esse movimento é conhecido como fazer praça. Entre as pessoas envolvidas com o trabalho sexual em um contexto transnacional, a praça é o local onde se desenvolve o trabalho sexual. Normalmente, não é um espaço público. Mas como aquela, a praça no trabalho sexual também é um lugar por onde se passa e no qual não se costuma permanecer por muito tempo. Trata-se de uma ressignificação do conceito e refere-se a uma casa ou a um apartamento. O termo ganha diferentes sentidos quando acompanhado de alguns verbos: fazer praça, por exemplo, será o ato de deslocar-se de um lugar para outro no intuito de obter mais clientes por ser uma novidade onde se acaba de chegar. Esses trânsitos podem ser dentro do país ou entre países. Portanto, é o ato de viajar de cidade em cidade para trabalhar mais.

No livro Vidas na raia: prostituição feminina em regiões de fronteira (2008), Manuela Ribeiro et. al. dizem que plaza (termo castelhano) refere-se a períodos previamente fixados, na maioria dos clubes espanhóis, que recebe mulheres para o trabalho sexual, para uma estadia com duração de 15 dias em média. Essa mobilidade, naquele contexto, era uma forma de camuflar a situação irregular das imigrantes, mas também pode ser uma forma de ter sempre novidade no mercado sexual local. Na linguagem popular, o termo foi generalizado para definir espaço de trabalho sexual temporário.

Ainda a respeito das praças, é preciso reiterar que se trata de um tipo de aluguel bastante informal, por isso, mais facilitado. No entanto, trata-se de um tipo de contrato informal bem mais caro e pago antecipadamente, dada a fragilidade do vínculo. Robinho12 me contou que normalmente aluga-se o quarto por semana. Em Portugal, o custo semanal de um quarto de praça costuma variar entre €150 e €200 com as despesas incluídas. Não são comuns praças apenas de homens. É mais comum praças apenas de mulheres cis ou trans, ou praças mistas entre mulheres trans e homens cis.

PUXAR MALA RUMO A MELHORES DESTINOS

Ao longo do trabalho de campo, os interlocutores circularam muito. Ficavam temporadas viajando. Os períodos variavam entre um mínimo de quinze dias e um máximo de dois meses. Depois voltavam a Portugal, onde havia uma casa mais fixa, para descansar, fazer acompanhamento médico, procedimentos estéticos, bem como resolver questões legais.

As pessoas que fazem trabalho sexual, em meu campo, promovem um deslocamento (quase sempre) de regiões mais pobres do país ou do mundo em direção a lugares mais ricos na expectativa de "melhorar de vida" e retornar à origem, ou investir no lugar de origem (Piscitelli, 2013). Afinal, nas cidades de origem estão os vínculos afetivos e os projetos de futuro. Em comum, eles vivem de forma itinerante, puxando malas, e com certo grau de improviso. Viajam, mas a trabalho. Yuri, que tem uma agenda intensa de viagens, comenta: "As minhas viagens é tudo trabalho. Eu não vou viajar de férias. Sempre compensa viajar. Trabalha e dá um close lá fora. Come comida diferente, nossa. Atualiza o feed. E ganha mais do que se estivesse aqui" [Portugal] (Yuri).

Os países percebidos por eles como aqueles que pagam mais e que têm melhores clientes, porque são mais assíduos e porque barganham menos, são Suíça, Luxemburgo, Alemanha, Inglaterra, Bélgica, Países Baixos, Áustria, França, Itália e Espanha. Em todos esses países, diferentes escorts têm clientes fixos e as viagens são previamente acertadas com os clientes. Em vista disso, é muito difícil que eles embarquem para uma viagem que vai cobrir dois ou três países sem contatos com clientes fixos em todos eles. A grande maioria dos clientes fixos que reside fora de Portugal foi contatada pela primeira vez quando esses homens estiveram aqui, geralmente, a trabalho ou nas férias.

Itália, eu já fui lá três vezes. Fui em Veneza. Fui pra Roma três vezes também. A Itália, as vezes que fui lá, foi pra ficar sempre com o mesmo cliente. Eu ficava uma semana com ele, aí eu voltava. As Ilhas Canárias, que eu também já fui lá duas vezes, foi igual. Fui pra Praga, República Tcheca. Antes de viajar já se joga lá pelo Hunqz. Já coloca a localização para lá. E já começa a fazer a agenda. Agendas abertas. Por mais difícil que fosse, sempre voltei para cá com muito mais grana do que eu faria aqui. (Yuri)

Yuri conheceu o cliente italiano no verão anterior à pandemia. Eles se encontraram em Lisboa e depois viajaram ao Algarve. Quando o cliente voltou para a Itália, os contatos permaneceram via redes sociais e aplicativos de mensagem. A relação entre eles teve sequência em viagens que o escort fez para a Itália e outros países, sempre pagas pelo cliente. Quando viaja para outros lugares a trabalho e que não tem um cliente a sua espera, a estratégia é lançar mão das ferramentas georreferenciadas.

Nando, que tem uma carreira internacional bombando, costuma fazer com frequência um mesmo circuito de trabalho: Países Baixos, Luxemburgo, Bélgica, Suíça, Alemanha e Inglaterra. Não necessariamente nessa ordem. Estariam nesses lugares os clientes mais fixos e ali ele diz conseguir lucros que fazem valer a movimentação. Sobre a Alemanha, por exemplo, onde está seu amigo Beto13, ele diz: na Alemanha, tem muita grana. Aqui em Portugal, não tem grana. Então, se eu quero carreira, se eu quero uma vida de luxo, é lá fora. De certeza.

No entanto, nos intervalos entre as viagens de trabalho, ele costuma voltar para descansar em Lisboa, onde está sua casa. Durante as viagens, ele opta por hospedar-se em hotéis, ou locar AirB&B, dependendo da cidade e dos preços cobrados. A casa de amigos é também uma opção, quando há condições de trabalhar nela. Ele detalha um pouco a operação desse processo:

Eu mantenho a minha casa em Lisboa. Eu preciso ter um lugar para ter as minhas coisas. O meu documento é aqui. É preciso, eu gosto de saber que eu tenho um lugar para voltar. Eu conheço pessoas que viajam com duas malas, uma mala e uma mochila, e é feliz. Eu não consigo ter esse tipo de vida. Chega uma hora que eu quero voltar para a minha casa. E socializar com os meus amigos. Saber que as minhas coisas estão num guarda-roupas. Que os meus documentos estão guardados. Não consigo me limitar a uma mala. O máximo que eu consegui ficar fora foram 4 ou 5 semanas. (Nando)

Nando figura entre uma parte dos interlocutores que consegue se comunicar em idiomas diferentes, pois fala espanhol, inglês e arranha francês. Isso lhe permite transitar por contextos mais alargados e negociar com clientes mais variados. Tal situação faz com que ele consiga viajar mais e, em vista disso, passar mais tempo fora de casa, isto é, longe de Lisboa, em Portugal. No entanto, a situação de boa parte dos interlocutores, sobretudo aqueles recém-chegados à Europa, é um pouco diferente. A maior parte desses interlocutores não fala, com segurança, como dizem, outros idiomas. Eu sempre os interrogava sobre isso. Xande14 me explicava assim:

Querido, elas [os escorts] são rápidas. Hoje em dia, é tudo no Google Tradutor. Não precisa de falar muita coisa. Só escrever num papel o valor e o tempo. Tem uma foto, escreve no papel e está já. Fala aquele inglês do puteiro, bota no papel o preço que cobra e já está ótimo. Inglês do puteiro é o basicão que toda prostituta deve saber.

A estratégia do Google Tradutor teve uma forte presença em meu campo. Era assim, por exemplo, que Zuca Da Leste transitava por outros países. Aliás, ele me contara da enorme vontade de ir à Suíça, mas do enorme receio, pois, se por um lado o trabalho sexual paga bem lá (um atendimento na Suíça pagaria €300; em Portugal, em torno de €60), também haveria muita fiscalização, já que o exercício do trabalho sexual é uma profissão regular e paga imposto.

A atuação do Estado em termos de fiscalização do trabalho sexual não agiria no sentido da proibição de seu exercício, mas como forma de controle de que seu exercício estivesse em dia com as obrigações fiscais. Não pagar imposto no exercício dessa atividade laboral é agir na clandestinidade. Uma alternativa que alguns escorts encontravam, nos primeiros tempos, era não criar vínculo residencial e mudar constantemente de alojamento. Por exemplo, fazer reservas curtas em AirB&B, algo como mudar de local a cada dois dias. Os escorts que encontrei na Suíça agiam na clandestinidade, pois não pagavam os impostos devidos pelo exercício da profissão.

Há um receio, que me parece comum a todos eles, que é do desconhecimento da língua do país. É também por isso que as viagens costumam ser em duplas ou trios. Geralmente um dos escorts conhece um pouco a língua, ou a hospedagem é em alguma praça que alguém fala a língua local. As viagens com amigos são vantajosas, especialmente quando algum dos amigos fala inglês ou conhece a língua local, pois não obriga os escorts a inserirem-se em uma praça daquele lugar, mas podem criar, momentaneamente, uma praça deles em que os preços serão os cobrados pelo site de aluguéis e não os superfaturados pelo dono ou dona da praça pré-existente.

Eu fui entendendo que as viagens ocorriam a partir de uma rede de clientes já contatada a partir de Portugal, mas também a partir de uma rede criada entre os próprios escorts. Tratava-se de pessoas que estavam em turnê internacional, rodando a Europa, e informando onde dava mais dinheiro e tinha futuro; ou pessoas que escolheram/conseguiram se estabelecer em algum país que parecia mais rentável em relação a Portugal. Essas redes permitiam que eles circulassem, encontrassem conhecidos nas praças onde chegavam, criassem novas praças com os amigos em viagem, ou tivessem pessoas de confiança que os guiassem nos primeiros tempos no novo lugar a fim de uma melhor adaptação.

Essas pessoas locais teriam certa experiência na dinâmica da vida do lugar, o que poderia facilitar um pouco a atuação do recém-chegado. Em outros casos, as redes se formavam a partir da dinâmica do processo de trabalho e durante a própria perambulação. Em situações menos comuns, elas também se formavam na dinâmica das relações amorosas dos próprios escorts que acabavam envolvendo-se uns com os outros.

Essas redes transnacionais dos escorts também informam sobre um circuito que pode ser mais lucrativo e vantajoso para que seja seguido, informam sobre rotas que não devem ser seguidas, pois não dão dinheiro, ou são perigosas. Dagoberto dizia com certa frequência: Leste Europeu é mais pobre que aqui, não precisa ir. Verão: é sul e praia. Algarve, ou Espanha, Ibiza, Formentera. Você fala inglês, vai para a Itália.

As reiteradas tentativas de barganha por parte dos clientes portugueses, o baixo preço pago pelos atendimentos, bem como as altas exigências foram questões recorrentes. O que parece claro é que os escorts que não fazem uma preparação adequada para planejar a viagem do Brasil para a Europa, quando chegam à Europa, começam a entender como é a dinâmica do processo aqui e passam a ser estratégicos na organização dos trânsitos que operarão no e pelo continente. Fazem contas, avaliam ônus e bônus. Desenvolvem habilidades no planejamento das turnês. Muito diferente do improviso que caracterizara a vinda para a Europa.

Há um investimento na circulação como forma de efetivar um trabalho mais rentável. Opta-se pelo deslocamento como regra. Esses interlocutores mantêm os vínculos com o Brasil. Alguns mantêm uma casa fixa em Lisboa. A forma de trabalho é que se organiza viajando por diferentes países da Europa. Ao me deparar com essa realidade desse grupo de interlocutores, logo a relacionei com a noção de entre-lugar proposta por Homi Bhabha (1998). O autor questiona a rigidez das identidades fixas, acabadas, fechadas em si mesmas. Como alternativa, ele propõe pensar uma identidade nas fronteiras de diferentes realidades e sujeitas a diferentes estímulos que estariam em permanente disputa.

A noção de entre-lugar se constituiria justamente a partir de um pensamento liminar, construído nessas fronteiras, quem sabe entre o familiar e o estranho, o nacional e o estrangeiro, a casa e a rua, o próximo e o distante. O entre-lugar ocupa o devir, não se aloca nos extremos e dá um sentido aos processos produzidos a partir de diferenças culturais que são articuladas por meio de estratégias de subjetivação.

Todas essas questões parecem mostrar que, ora Portugal, ora Europa, funcionam como entre-lugares para alguns desses escorts. Quando Portugal é uma espécie de entre-lugar, o Brasil seria a referência fixa para onde todo o movimento empreendido em Lisboa e outras cidades reverberaria. As relações em Portugal seriam fronteiriças, algo como um meio, mas as referências estariam dadas em outras bases. Se a Europa funcionasse como uma espécie de entre-lugar, Portugal e o Brasil, ainda que em diferentes escalas, poderiam aparecer como referências de lugar. Não se trataria de um lugar geográfico, material, físico, mas de uma alternativa segura e, em certa medida, mais duradoura. A Europa, nesse caso, seria o lugar do trânsito, do deslocamento, da mobilidade, da itinerância.

Penso em entre-lugar, ao perceber a circulação de praça em praça, seja por Portugal, seja pela Europa, porque entendo que os meus interlocutores, tal como teorizado por Bhabha (1998), constroem estratégias de agência ao se (re)posicionarem nas relações de poder que estabelecem ao transitar por um determinado circuito do trabalho sexual em uma condição de alguma "vantagem" diante de outras modalidades de prestação desses serviços. Não entendo que haja muitas possibilidades para eles deixarem de estar em um entre-lugar, porque parece que se constituem escorts justamente ali, nessas fronteiras, nesse espaço liminar. Espaço esse que também é produtivo, híbrido, ou como prefere Bhabha (1998), como o próprio local da cultura. Quer dizer, o local da cultura é o entre-lugar dos hibridismos. Penso que os sujeitos de minha pesquisa, em um périplo de praça em praça, personificam isso.

Aliás, isso parece produtivo no contexto de minha pesquisa, porque os entre-lugares são justamente próprios para a emergências das mais variadas formas de negociação. A negociação de existência e, quem sabe, a negociação para a realização dos sonhos. São nos entre-lugares, nessas territorialidades transitórias, que vão se organizando nexos comuns a partir de individualidades diferentes caracterizadas a partir de intersubjetividades insurgentes. Cria-se uma "solidariedade aflitiva" entre esses sujeitos no sentido de uma "invenção criativa" (Bhabha, 1998, p. 29).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Há um certo glamour em pensar nessa perambulação continental. Uma coisa um pouco mambembe15. Ora aqui, ora ali. A dimensão marginal, estranha, deslizante e desestabilizada do entre-lugar parece que fica subsumida pelas constantes atualizações do feed nas redes sociais. Eu entendi que a circulação pela Europa era uma parte central no exercício do trabalho sexual de alguns interlocutores. Boa parte do tempo deles de Europa era sem um paradeiro fixo.

Algumas páginas antes, dialoguei com Jean Rémy e Liliane Voyé (1994) sobre como o processo de urbanização é atravessado e constituído por uma noção de mobilidade. Retomo a ideia de mobilidade, atrás apresentada, para pensar, a partir de Arjun Appadurai (1997), sobre ethnoscape. Esse neologismo problematiza um lugar-comum da antropologia - representado pelo encontro entre um antropólogo em movimento e um "nativo" "estático". Appadurai defende que antropólogo e "nativo" estão em movimento e pertencem a lugares. O movimento não cessa para ambos e os lugares estão em permanente constituição. Penso que a noção de ethnoscape é bastante representativa das andanças que fiz pela Europa seguindo os interlocutores que perambulavam de praça em praça. Para Appadurai: ethnoscape, seria "a paisagem de pessoas que constro-em os mundos mutáveis em que vivem […] porque cada vez mais pessoas e grupos se relacionam com a realidade de terem de se mover ou com a fantasia de quererem mover-se" (Appadurai, 1997, p. 33-34).

O autor investe em descontruir a ideia de um "nativo" associado a um lugar, que, de alguma forma, foi a maneira clássica que a Antropologia organizou uma leitura da cultura e do social. Ethnoscape, desse modo, desterritorializa os sujeitos contemporâneos a partir de um olhar atento aos fluxos e ao trânsito destas relações que se desenvolvem em uma espécie de devir permanente, tal como fazem os interlocutores produzindo mundos possíveis a partir das temporadas de praça em praça.

A partir desse devir permanente é que há, na percepção de Appadurai, a possibilidade de interpretar a fronteira como uma zona de contato e não de afastamento entre as diferenças. Porque não se está mais olhando para sujeitos e espaços estáticos, mas para algo poroso e deslizante, como diria Filomena Silvano (2017). A fronteira não deixa de existir. Mas, no caso de meus interlocutores, eles experimentam diferentes ethnoscapes.

Habitam moradias temporárias, seja em guest houses, albergues, alojamentos locais, AirB&B, ou nas praças de trabalho, como reportei antes. Estão em diferentes cidades de diferentes países em curtos espaços de tempo. Em todos estes espaços físicos constituem lugares em que o que chama a atenção é uma sensação de "recém-chegado" ou de "prestes a partir". Durante o trabalho de campo, quando estivemos juntos, nos diferentes países, suas "casas" davam-me a impressão de que eles, ou estavam chegando, ou estavam partindo. Malas desarrumadas, roupas soltas, espaços impessoais. Tudo me lembrava mobilidade. Parece que havia uma tentativa de gerar exatamente uma desconexão do sujeito com o lugar, uma espécie de desidentificação. Havia ali qualquer coisa que não associava de início, o sujeito ao lugar.

Conversando com alguns desses interlocutores, acabo por perceber que isso pode ser, inclusive, acionado de maneira consciente. Alguns deles me contaram que era preciso mostrar aos clientes que eles eram novidades na cidade. Por isso, também, muitas "fotografias turísticas". Ser novidade, recém-chegado, ou em curta temporada no lugar, como falei antes, é um estimulante para que o cliente queira ser o primeiro a ter com o escort, antes dos demais. Ou o contrário, aproveitar esse homem antes que ele parta para outras praças. Para tanto, o máximo de informações disponíveis que remonte à mobilidade, ao trânsito, a malas sendo arrumadas, ou desarrumadas, pode ser, também, uma estratégia que corrobora uma outra dimensão do negócio do desejo.

Penso que a noção de estrangeiro é produtiva para perceber como os sujeitos da pesquisa vão tateando os caminhos que os levam à Europa. Na leitura clássica, apesar das agruras de ser estrangeiro, eles carregavam uma suposta vantagem: a liberdade. Uma espécie de "estrangeiridade" deveria ser superada a partir da "assimilação". No entanto, a manutenção de algumas diferenças era fundamental para estruturar as relações. Talvez isso continue a aplicar-se, sobretudo em se tratando dos mercados do sexo. No caso de meus interlocutores, ser estrangeiro funciona também como uma marca que precisa ser mantida e reinventada, pois é uma parte importante do negócio do desejo que lhes confere alguma vantagem em um cenário completamente povoado por adversidades.

Atentar aos trânsitos de praça em praça a partir das noções de heterotopia, não-lugar e ethnoscape, mais do que ser conclusivo, antes essas percepções são insights que pareceram adequados e rentáveis. Em relação a isso, é manifesta a potência de pensar a construção social dos lugares a partir das experiências dos sujeitos em suas relações mais micro e, depois, com seu entorno mais alargado. Um outro olhar sobre o espaço público e as relações com o espaço público nas cidades, bem como a possibilidade de transitar por diferentes países ganhando dinheiro e repertório.

Quero acentuar como os eventos que envolvem a "preparação" das viagens desde os contextos de origem no Brasil são caracterizados, em geral, pelo improviso; a chegada e estabelecimento em Portugal, quase sempre, atravessados por perrengues de todos os níveis; a compreensão da realidade portuguesa e o entendimento de que realizar o sonho europeu seria uma tarefa um pouco mais complexa e exigiria passos mais ousados no trottoir; a circulação pela Europa rica, fazendo praça e puxando mala, como forma de alcançar os objetivos.

Nesse périplo até a Europa e depois na circulação pelo continente, alguns elementos são decisivos: é preciso dominar diferentes idiomas, inclusive para negociações mais vantajosas. Além disso, é fundamental estar regular do ponto de vista da documentação. Trata-se de uma afiança que garante uma maior tranquilidade na circulação pelos diferentes países. Outrossim, não se pode ignorar, em alguns momentos, os verdadeiros abismos existentes entre o sonho europeu de uma "Europa imaginada" e a realidade com menos brilho e facilidades enfrentada nos inúmeros desafios cotidianos que se apresentam para realizar o sonho.

Por fim, um depoimento muito pessoal. A produção dos dados se deu de forma itinerante, como a pesquisa exigia, afinal assim ele o campo se construiu. Foi um ritmo acelerado, sobretudo pensando a partir das viagens que eu tive que fazer. A mala que eu puxava estava sempre sendo arrumada e desarrumada simbólica e concretamente. A rotina de avião, trem e ônibus foi a tônica. Caminhadas. Longas caminhadas diárias. Noites muito mal dormidas. Uma rotina que certamente eu não daria conta por muito mais tempo, mas que me pareceu fundamental para me aproximar de alguns interlocutores e experimentar, ainda que com muitas ressalvas, aquele trottoir estilizado de praça em praça.


NOTES

1 Gostaria de frisar que a categoria violência e que situações de violência, cuja pertinência é tão comum quando se trata de trabalho sexual de mulheres (cis e trans) e travestis - principalmente violência dos clientes contra as trabalhadoras sexuais - não foi recorrente em minha pesquisa. Entre diversas possíveis razões, penso que se deve destacar que as assimetrias de gênero, a orientação sexual e até mesmo a classe e a escolarização não existem de forma tão marcada na pesquisa que desenvolvi. Isso não quer dizer que nesse negócio entre homens não haja discursos de violência ou experiências de violência em meu campo. Há. No entanto, são discursos muito pontuais e, não raro, dizem respeito a terceiros, e não ao sujeito com o qual eu estava em interlocução direta.
2 Para mais detalhes, ver: https://www.acm.gov.pt/zh/-/o-que-e-uma-autorizacao-de-residencia.
3 Yuri tem 27 anos, é nascido em Curitiba, Paraná. Considera-se moreno, tem 1,83 m, 70 kg e corpo percebido como magro, definido. Possui ensino médio completo, cursado no Brasil. Sua situação em Portugal, do ponto de vista da documentação, é regular. Ele possui título de residência há três anos, embora viva em Portugal desde 2016. Ele já teve residência fixa em Lisboa, mas agora está investindo na carreira internacional, portanto, vive de forma itinerante entre diferentes países. Ele pretende estabelecer-se em 2023 na Alemanha. Yuri considera-se homossexual. Ele é fluente em inglês e sabe comunicar-se em francês, espanhol, italiano e um pouquinho em alemão.
4 Ele tem 22 anos, é de São Paulo capital, da região do Campo Limpo, zona leste da cidade, 1,70 m, 60 kg, branco, com um corpo magro, ora definido, ora bem magro, ora levemente malhado. Completou o ensino médio (12° ano) e falava apenas português. Considerava-se gay. Com os clientes, ele preferia performar como "mano da periferia".
5 Forma sintética de "portuga", um jeito de se referir aos portugueses, sobretudo por brasileiros. Algumas vezes essa é uma referência pejorativa, que faria frente a zuca.
6 Ele tem 33 anos, é nascido em São Paulo. Considera-se moreno, tem 1,83 m, 75 kg e corpo percebido como definido. Possui ensino médio completo. Curso realizado no Brasil. Sua situação em Portugal, do ponto de vista da documentação, é regular. Ele tem título de residência há quatro anos. Nando tem uma casa fixa em Lisboa, mas passa a maior parte do ano viajando pela Europa a trabalho. Considera-se de classe média. Em termos de orientação sexual, identifica-se como gay. Ele fala inglês fluente e um pouco de espanhol.
7 Ele tem 35 anos, é de Goiânia, Goiás. Considera-se negro ou pardo, tem 1,83 m, 80 kg e corpo definido como parrudo. Possui curso superior completo na área de Ciências Sociais Aplicadas, realizado no Brasil. Sua situação em Portugal, do ponto de vista da documentação, é irregular. Espera conseguir regularizar-se para poder sair de Portugal. Lauro vive em Portugal desde 2019. Ele se considera gay e comunica-se apenas em português.
8 Ele tem 34 anos, 1,78 m, corpo magro/definido. Ele é de uma cidade do interior de Minas Gerais. Define-se como branco. Completou o ensino médio (12° ano) no Brasil. Ele considera-se homossexual. Do ponto de vista da documentação consular em Portugal, ele está em processo de regularização. Ele não tem uma profissão oficial. Mas já fez um pouco de tudo. Em termos de classe social, Dagoberto considera-se de classe média. Ele comunica-se em inglês e espanhol.
9 Recibo Verde em Portugal é uma forma de emissão de fatura de diferentes serviços quando feita por um prestador independente. Isto é, quando não há um vínculo empregatício entre o trabalhador e a empresa. Esse tipo de relação é muito comum com trabalhadores do setor de serviços, especialmente imigrantes nos primeiros tempos em Portugal. Segundo a Autoridade Tributária e Aduaneira de Portugal, o Recibo Verde recebe esse nome, pois quando o sistema era manual, e não informatizado, esse documento era preenchido a partir de um papel verde. O sistema mudou, mas o nome ficou. Para mais detalhes, ver https://www.portaldasfinancas.gov.pt/at/html/index.html.
10 Contracheque.
11 Ele tem 31 anos, é nascido em Goiânia, Goiás, mas mudou-se para o interior muito jovem. Viveu em Anápolis, Pirenópolis, até regressar para Aparecida de Goiânia, cidade conurbada à capital. Considera-se branco. Ele tem 1,75 m, 72 kg e corpo definido como Ken, o namorado da Barbie, ou seja, muito musculoso. Possui ensino superior na área de Ciências Agrárias cursado no Brasil. Ele está na Europa há sete anos. Sua residência fixa é em Lisboa, mas ele passa boa parte do ano viajando a Europa a trabalho. Sua situação, do ponto de vista da documentação, é regular. Sua profissão é o trabalho sexual e considera-se de classe média-alta. Otto diz-se gay. Ele fala inglês.
12 Ele tem 25 anos, e é baiano de Salvador. Considera-se negro, tem 1,80 m, 78 kg e corpo definido como malhadinho. Possui ensino médio completo, cursado no Brasil. Sua situação em Portugal, do ponto de vista da documentação, é regular. Ele vive em Portugal desde 2017. Não costuma viajar pela Europa. Suas viagens são apenas por Portugal. Robinho se diz de classe média e identifica-se como gay. Ele se comunica apenas em português.
13 Ele tem 30 anos, é nascido em São Paulo capital. Considera-se moreno ou pardo. Ele tem 1,80m, 73 kg e corpo definido como malhadinho. Possui ensino superior (o equivalente à licenciatura em Portugal) na área de Ciências Sociais e Humanas cursado no Brasil. Ele está na Europa há oito anos, passou pouco tempo em Portugal e hoje vive na Alemanha. Sua situação, do ponto de vista da documentação, é regular. Ele está prestes a receber a residência alemã. O interlocutor tem uma profissão oficial para além do trabalho sexual, que funcionaria como um extra. Beto considera-se bicha. Ele fala inglês, alemão, espanhol e um pouco de francês.
14 Ele tem 28 anos, ele nasceu em uma cidade do interior das Minas Gerais. Identifica-se como negro, tem 1,76 m, 75 kg e corpo definido como malhado. Possui ensino médio completo, cursado no Brasil. Sua situação em Portugal, do ponto de vista da documentação, é regular. Ele mora em Portugal há mais de dez anos. Xande tem um emprego oficial na área de segurança. O trabalho sexual funciona como um bico. Xande considera-se homossexual. Ele entende-se como pobre. O interlocutor comunica-se apenas em português.
15 Mambembe é um termo que geralmente é usado para descrever algo que é improvisado, de qualidade inferior, malfeito ou que carece de recursos adequados. Pode ser usado para caracterizar uma produção teatral de baixa qualidade, uma solução temporária ou mal planejada para um problema, ou qualquer coisa que pareça amadora ou precária. É amplamente utilizada no Brasil para descrever algo que é feito de maneira tosca, rudimentar ou improvisada.


REFERÊNCIAS

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