10.18601/01207555.n30.14
RESEÑA
PARA UMA HISTÓRIA DO TURISMO NO DOURO, DE MARÍA OLINDA RODRIGUES SANTANA. RECENSÃO1
FOR A HISTORY OF TOURISM IN THE DOURO, BY MARÍA OLINDA RODRIGUES SANTANA
Fernando Manuel Rocha da Cruz
Doctor en Sociología de la Universidade do Porto
Profesor adjunto a la Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Portugal
[fmrcruz@gmail.com]
1 Para citar el artículo: Rocha, F. (2022). Para uma história do turismo no Douro, de María Olinda Rodrigues Santana. Recensão. Turismo y Sociedad, vol. XXX, pp. 275-277. DOI: https://doi.org/10.18601/01207555.n30.14
Fecha de recepción: 9 de marzo de 2020 Fecha de modificación: 30 de marzo de 2020 Fecha de aceptación: 2 de abril de 2020
Para uma história do turismo no Douro, coordenado por Maria Olinda Rodrigues Santana, e com edição de CETRAD, UTAD, Dourotur e Sodivir - Edições do Norte, foi publicado, em Vila Real, em 2019. Trata-se de uma obra original, inovadora, bem escrita, dirigida a especialistas, mas também ao público em geral, que procura apresentar um conjunto de estudos transdisciplinares sobre a história do turismo no NUT III - Douro (Portugal).
O Prefácio, de António Fontainhas Fernandes, enfatiza os desafios, sobretudo culturais, turísticos e económicos, colocados pela paisagem do Alto Douro Vinhateiro e pelos sítios pré-históricos de Arte Rupestre do Vale do Coa, classificados pela Unesco como património mundial. Por seu lado, Xerardo Pereiro na Abertura, enquadra o livro como um dos resultados do projeto de investigação-ação Dourotur que procurou aproximar as potencialidades turísticas do Douro do desenvolvimento da região.
A obra de Maria Olinda pode ser dividida em três partes. A primeira, constituída pelos três primeiros capítulos, apresenta uma perspetiva histórica do território do Douro (NUT III). Assim, no primeiro capítulo, intitulado "Interligando o Douro com a história do turismo", de Veronika Joukes e Susana Rachão, ressaltamos tratar-se de um capítulo concetual que apresenta conceitos como turista, viajante e NUT III, para além da evolução, em termos estatísticos, do turismo na região. Acresce aqui, a justificação do interesse atual na história do turismo (Boyer, 1999). Com o título "Os primeiros 'visitantes'", o capítulo 2, de Mila Simões de Abreu demonstra que a aparente ausência de ocupação humana da região, desde a pré-história, deve-se principalmente à falta de investimento em prospeções arqueológicas, como é evidenciado pela descoberta acidental de arte rupestre no Vale Côa, nos anos 90.
O capítulo 3, "Breve contextualização histórica", de Maria Olinda Rodrigues Santana, de índole histórico, distingue entre a fase do repovoamento da primeira dinastia portuguesa e a fase de transição marcada pelo conflito internacional entre a Inglaterra e a França, em que o primeiro país foi obrigado a procurar novos mercados, nomeadamente de vinhos. Quanto ao século XIX, este é marcado pela consolidação desse mercado, onde se distinguem personalidades como D. Antónia Ferreira e o 1° Barão de Forrester na região do Douro. Mas, como bem lembra a autora, esta paisagem é também marcada por gente anónima como durienses, serranos e galegos. Por fim, quanto ao séc. XX, destaca a relevância das instituições da produção agrícola como a Casa do Douro, o Grémio dos Exportadores do Vinho do Porto ou a Associação dos Exportadores do Vinho do Porto e o Instituto do Vinho do Porto, bem como, a Comissão Interprofissional da Região Demarcada do Douro ou o Conselho Interprofissional incluído no Instituto dos Vinhos do Douro e Porto. A classificação do Alto Douro Vinhateiro como Património Mundial da Unesco, na categoria de "Paisagem cultural evolutiva e viva", em 2001, constitui, no entanto, a mudança paradigmática. Desse modo, se o século XIX é marcado por uma história de personalidades, já no século XX, é a história das instituições que marcam a região do Douro.
A segunda parte é constituída pelos cinco capítulos seguintes, os quais dizem respeito à história da viagem na região NUT III. Assim, o capítulo 4, intitulado "Vias e meios de transporte: algumas reflexões", de Veronika Joukes e Susana Rachão, expõe a evolução do transporte terrestre e fluvial na região do Douro. O isolamento desta região e a ausência de turistas são explicados pela industrialização tardia do país, dificuldade de acesso e implementação tardia de uma rede eficiente de transportes. Neste é ainda destacada a alteração do panorama turístico nos últimos 50 anos devido à construção de barragens e à consequente alteração das condições de navegabilidade do rio Douro. Estas autoras escreveram também o capítulo 5 sobre "Práticas turísticas". Aqui, identificam o défice de unidades de alojamento, meios de transporte, guias turísticos e outros tipos de informação. Apenas no século XXI, Porto e Norte de Portugal se tornaram atrativos para o turismo internacional devido à obtenção de prémios de excelência turística, paralelamente à política de atração de companhias aéreas low cost para o aeroporto Francisco Sá Carneiro, no Porto. Este capítulo chama ainda a atenção para a diversidade das quintas do Douro e as suas práticas recreativas desde o séc. XIX; a implementação do Turismo de Habitação no Douro, da rota vinhateira do Vinho do Porto e da oferta enoturística; a diversidade de programas de visita ao Douro nos cruzeiros no turismo náutico; as visitas às amendoeiras em flor e a prática excursionista; as romarias como a de Nossa Senhora dos Remédios; o termalismo no Moledo, Carlão, São Lourenço e Aregos; os casinos; o turismo de literatura; o turismo cinegético; e o turismo de natureza. O capítulo 6 com o título "Olhares 'prosaicos' e "poéticos" de Maria Olinda Rodrigues Santana recorre à distinção sugerida em "Sem Método" de João de Araújo Correia (1983). Assim, a autora apresenta os "olhares prosaicos" dos guias turísticos, prospetos, revistas e postais ilustrados sobre a região do Douro, em oposição aos "olhares poéticos" e estéticos presentes no imaginário coletivo duriense, o qual é alimentado por escritores, fotógrafos, artistas plásticos e músicos. O capítulo 7, intitulado "Equipamentos em prol da sustentabilidade do turismo". de Margarida Correia Marques debate o potencial turístico dos equipamentos de educação para a sustentabilidade. Estes equipamentos são estruturas de âmbito local como Centros de Ciência Viva, Centros de Interpretação, Ecomuseus, Ecotecas, Jardins Botânicos e Museus. Ao enquadrar estes equipamentos no Turismo sustentável, o desenvolvimento da região assenta, por conseguinte, na diferenciação ambiental, na inovação e melhoria do desempenho económico e competitividade, bem como na qualidade de vida das comunidades locais e coesão social. Por fim, o capítulo 8 com o título "Algumas sugestões para novas práticas turísticas" de Maria Olinda Rodrigues Santana sugere, por um lado, a melhor articulação dos diversos tipos de turismo existentes e, por outro lado, a diversificação das práticas turísticas emergentes. Desse modo, perpassando o turismo de habitação, o enoturismo e o turismo náutico a autora conclui que o turismo cultural e o turismo de natureza precisam de ser associados a outros tipos de turismo. No entanto, não deixa de apontar obstáculos ao desenvolvimento económico e social da região como o declínio demográfico, os baixos salários médios e a falta de trabalho para licenciados.
Por último, a terceira parte foi escrita pela Coordenadora da obra que a apelidou de "Considerações finais". Nesta, apesar de considerar que o destino Douro possuir produtos turísticos de excelência, conclui que o Turismo do Porto e Norte Portugal trata de forma desigual os quatros patrimónios mundiais do seu território, para além da cidade do Porto ser privilegiada no caso das city & short breaks face aos demais destinos do Norte de Portugal.
Em conclusão, esta é uma obra que trata a região NUT III - Douro em termos históricos desde a sua ocupação humana à sua "descoberta" para efeitos turísticos sobretudo a partir da classificação do património mundial do Douro e de Foz Côa. Neste processo destaca-se a importância de algumas personalidades na segunda metade do século XIX, seguindo-se o das instituições. Por outro lado, o "esquecimento" da região do Douro em termos turísticos face ao território nacional deve-se à política especulativa neoliberal que faz alternar a importância económica dos territórios seja em termos de desenvolvimento económico, seja em termos turísticos. A história do Douro, em termos turísticos, poderia ser igualmente a história de outras regiões nacionais e europeias quando relaciona o local com o global, como bem salienta Pereiro (2019). Por fim, deve-se relevar que esta obra para além de tratar historicamente o turismo na região do Douro, não deixa de perspetivar o presente e o futuro no que respeita aos desafios colocados pelo desenvolvimento da região e do turismo.
Referência
Santana, M. O. R. (coord.) (2019). Para uma história do turismo no Douro. Vila Real: CETRAD, UTAD, Dourotur, Sodivir. ISBN 978-972-8546-82-3. Disponible en http://www.pasosonline.org/Publicados/pasos_difunde/PS_DIF_2019_1.pdf.